Urgências
ODN publica na sua edição de hoje (ontem) uma notícia a dar conta que 33 mil madeirenses devem dinheiro ao sistema regional de Saúde. Mais de 1,3 milhões de euros que, certamente serviriam para investir em medicamentos e material necessário ao tratamento dos doentes. 33 mil é muita gente, mais de 1/4 da população activa da Região.
A questão das taxas moderadoras tem ‘barbas’ e nunca foi encarada com vontade de se resolver um problema grave da nossa sociedade, que tem, maioritariamente um grande défice de literacia em Saúde.
Numa terra tão pequena como a nossa, com concelhos sem centros de saúde abertos durante a noite, é normal que recorram ao serviço de Urgência do hospital central, que deveria, objectivamente, funcionar para os verdadeiros casos urgentes. E os outros? Os outros, pulseiras verdes e azuis, teriam de ser necessariamente triados por médicos dos diversos centros de saúde da Região. Que poderiam estar num espaço existente no edifício do HNMou a ele contíguo. Quando os doentes chegassem às Urgências seriam seleccionados. Os urgentes para o um lado os não urgentes para outro, atendidos por médicos de medicina familiar, que passariam também eles a fazer banco.
Este é apenas um exemplo. Haverá outros por ventura mais dispendiosos. O que não pode continuar a acontecer é estarmos permanentemente a prorrogar um problema, crónico.
A par de um atendimento alternativo é fundamental que seja feita uma forte campanha informativa dirigida à população, explicando o que é uma situação urgente e uma situação que pode esperar. A bonomia política sobre esta questão não trará bons resultados no futuro. As pessoas perderam o medo da covid e muitas continuam a ver o serviço de Urgências como uma porta para renovar a receita, para fazer análises ou a TAC que julgam necessitar. Está lá tudo, porque vão aguardar por uma consulta no centro de saúde? É óbvio que o hospital não pode deixar de atender quem lá se dirija, mas é importante recordar que esse suposto doente está a atrasar a assistência a uma verdadeira urgência.
Mas qual a barreira entre um caso urgente e um nada urgente? Seguramente que uma comichão nas pernas não será, mas aqui também tem de entrar a importante figura do médico de família e da medicina preventiva e não curativa.
As taxas moderadoras devem manter-se e deveriam ser cobradas coercivamente pela Administração Tributária ou entra entidade com poder conferido pelo legislador.
Estou certo que existem gestores competentes que saberão auxiliar o governo regional numa tomada de decisão que já deveria estar a ser equacionada. Senão, não saímos disto e os números de falsas urgências vão aumentar.
Carlos Abreu