Comunidade portuguesa em Durban avalia impacto das cheias na África do Sul
"A situação continua a ser caótica", apontou o cônsul honorário de Portugal em Durban, Elias de Sousa
A situação humanitária na província sul-africana de KwaZulu-Natal é descrita como sendo "caótica", desconhecendo-se até ao momento o impacto das devastadoras cheias na comunidade portuguesa, referiram hoje à Lusa fontes comunitárias na cidade portuária de Durban.
"A situação continua a ser caótica, aqui à volta e dentro da cidade, até mesmo aqui em Durban North onde há casas em que o jardim foi levado pelas águas", apontou o cônsul honorário de Portugal em Durban, Elias de Sousa.
"Tanto quanto sei, porque temos a costa norte e a costa sul onde aí vivem portugueses também, não tenho tido conhecimento de problemas na nossa comunidade, tive conhecimento de um casal que ia para a Suazilândia [atual Essuatíni], mas ficou retido em Ballito devido ao encerramento das estradas", revelou.
Em Durban, o edifício da Associação Portuguesa do KwaZulu-Natal (APN), foi afetado pelas chuvas torrenciais que já causaram mais de 400 mortos na região da costa litoral da África do Sul, referiu à Lusa o dirigente da coletividade, José Correia da Silva.
"O edifício está a meter água, mas não é muito grave", explicou o dirigente associativo, acrescentando que "ainda chove" e que "as pessoas continuam em casa à espera que isto passe".
Nesse sentido, o dirigente da APN sublinhou não saber "ainda ao certo se existem portugueses afetados pelas cheias".
O clube português, que ficou financeiramente debilitado com a pandemia de covid-19, é considerado pelos portugueses na costa oriental sul-africana como uma "casa que dá apoio a muitas famílias e ao convívio comunitário".
Por seu lado, Hélder da Fonseca, presidente da tertúlia local da Academia do Bacalhau, que realiza os seus almoços de solidariedade na APN, descreveu a situação no terreno como sendo um "desastre".
"Há pessoas que perderam tudo, casas, carros e vidas", vincou.
Segundo o empresário português, na região de Ballito, cerca de 40 quilómetros no norte da cidade de Durban, "houve pessoas que perderam casas, há propriedades que desapareceram, outras ficaram inundadas de lama, há carros enterrados, pessoas que não podem sair dos quintais porque os acessos desapareceram".
"É um desastre, há pessoas que não têm casa, há muita gente [sem casa]", explicou Hélder da Fonseca, acrescentando: "Eu e a minha esposa fomos até entregar um carro cheio de coisas para ajudar o centro de busca e salvamento [local], que precisavam de alimentos e sumos, mas há famílias que estão a viver em centros comunitários porque ficaram sem tudo, vão ter de recomeçar de novo outra vez".
Segundo Hélder da Fonseca, "de momento ainda é difícil avaliar o impacto nas famílias portuguesas", frisando que "depende das zonas onde vivem".
"Eu tive algumas inundações em casa, mas comparativamente a outras pessoas não posso queixar-me. Julgo que temos a mesma situação com a maioria dos portugueses, não estou a dizer que não exista pessoas afetadas, mas aqueles que tenho contactado não sabem de casos de portugueses afetados", contou à Lusa.
Fonseca explicou que estava em serviço em Moçambique quando teve que antecipar o regresso à África do Sul, na terça-feira, devido à calamidade.
"A casa do meu vizinho, que estava a zelar pela minha casa, foi inundada com lama e parte da minha casa também foi inundada, assim como com a terra que entrou do quintal dos vizinhos. São problemas pequenos, comparativamente a outros", considerou.
O empresário sublinhou ainda que uma ponte secular "desapareceu" com as chuvas torrenciais no subúrbio de Yellow Wood Park, acrescentando que parte da refinaria de Durban "ficou submersa".
No domingo, o governador de KwaZulu-Natal, Sihle Zikalala, anunciou que o Governo provincial alocou uma verba de mil milhões de rands (62 milhões de euros) para assistir aos moradores cujas casas foram danificadas pelas cheias.
As recentes inundações registadas na África do Sul provocaram a morte a pelo menos 443 pessoas, principalmente na região de Durban, na costa leste do país, e 63 pessoas continuam desaparecidas, segundo as autoridades locais.
Mais de 250 escolas foram afetadas, quase 4.000 casas arrasadas e mais de 13.500 danificadas. Também muitos hospitais foram danificados, segundo as autoridades sul-africanas.
As autoridades estimam em centenas de milhões de euros de prejuízos, numa região que já tinha sofrido em julho com uma onda de tumultos e pilhagens.
O Presidente Cyril Ramaphosa adiou uma visita de trabalho à Arábia Saudita para se "concentrar na intervenção do Governo no desastre das inundações de KwaZulu-Natal", segundo a Presidência da República sul-africana.