Eunice Muñoz - a Rosa vermelha
Eunice Muñoz, desapareceu-nos. Do palco e das nossas vidas. Completou 80 anos a multiplicar talento no cinema, na televisão e na arte mais sublime!, a fazer teatro. A sua capacidade inata, também, veio de sua mãe e seu pai, proprietários dum Teatro.
Eunice Muñoz, no elenco era sinónimo duma bilheteira de sucesso. Estreou-se aos 13 anos no
Teatro Nacional D. Maria II, na Companhia Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro. O Universo bafejou-me em dois momentos com esta rainha das artes cénicas. O primeiro: muito novos, eu e minha mulher, fomos assistir ao Teatro da Trindade, uma peça na qual Eunice era cabeça de cartaz. Dirigi-me à bilheteira e pedi: ‘Quero dois bilhetes para vermos a melhor! - Eunice Muñoz’. «Aguarde», respondeu a funcionária. De repente, numa aparição, ei-la exclamando: ‘’Sou eu!’’. Cabeleira farta, olhos de holofote e uma boca plantada com dentes cor marfim, num sorriso de orelha a orelha. Envergonhado e esfuziado, sorri.
O segundo: vi no Teatro D. Maria II a peça, ‘A Maçon’, do livro da notável, Lídia Jorge. Eunice deu corpo à pioneira da maçonaria feminina em Portugal, Adelaide Cabete. Para descrever a sua luminosa representação - 100 palavras! No fim do evento, saltei para o palco, levava uma petaluda rosa vermelha e entreguei-lha. Para meu espanto/comoção, a diva abraçou-me! O meu rio lacrimoso contagiou-lhe o sentimento: ‘Pronto, pronto filho!, sossega’, disse. «Adorava tanto ter sido actor», respondi. ‘’Agora também és. Estás no palco da vida!’’, replicou amável e generosa.
Guardo estas gratas palavras no meu relicário.
Quem, como Eunice Muñoz, deixou obra e amor viverá para sempre no coração dos amantes da arte cénica.
‘Não’ morreu, só fisicamente desapareceu. Que viva e Viva o Teatro!
Vítor Colaço Santos