Sobre padrões de relacionamentos instáveis e abusivos
Caso equacione por fim à relação, pode temer as consequências ou represálias
Viver um relacionamento abusivo pode ser traumático, experiência agravada no caso de o parceiro ter um padrão de personalidade com níveis elevados de instabilidade emocional e impulsividade, baixos níveis de empatia, comportamentos manipulativos e/ou aditivos ou de dependência.
Tais parceiros podem apresentar-se como carismáticos, românticos e sedutores e inundar o outro com elogios, promessas e gestos grandiosos de amor, enredando-o num jogo de sedução e controlo. A insegurança do outro fá-lo temer a crítica e a sensação de rejeição e abandono, procurando compensar estes receios através da generosidade, compreensão, desejo de agradar e de ser prestável, mesmo quando é explorado e maltratado, crendo muitas vezes que “se as coisas não estão a correr bem, é porque devo estar a fazer algo mal”.
São aqueles parceiros que pautam o ritmo do relacionamento enquanto o outro coopera na manutenção deste padrão relacional, porque por um lado não é capaz de mobilizar competências e recursos para traçar limites no sentido de se proteger e afastar, antecipando que se for afirmativo ou confrontativo poderá ser abandonado, sentir um vazio emocional e culpa por ter “estragado tudo”, confirmando a crença de que não é digno de ser amado.
Esta dinâmica funciona porque o outro admira a temeridade e a aparente confiança e “força” do parceiro que o “protegem” e porque, ao desempenhar o papel de cuidador e protetor do parceiro sente-se válido, útil e importante enquanto, por sua vez, o parceiro suprime-lhe algumas necessidades de calor afetivo e de ligação, daí retirando segurança e conforto momentâneos.
Estes ciclos de abuso relacional colocam a pessoa num papel mais reativo, de constante foco e resposta ao que vem do parceiro, temendo “fazer algo mal”. Acaba por esconder quem realmente é ou o seu potencial para estar numa relação de forma mais positiva e saudável. Quanto mais a segurança do amor ou das intenções do outro não é sentida ou demonstrada mais sente necessidade de a conquistar, caindo numa espécie de armadilha, e a estratégia que encontra é arriscar cada vez mais, em desespero, aprofundando as suas perdas e o equilíbrio emocionais, leia-se a sua auto-estima, duvidando cada vez mais de si próprio e diminuindo a sua perceção da realidade. Tendo a absorver e a integrar sentimentos de culpa e vergonha desencadeados pelo comportamento abusivo e manipulativo do parceiro, isolando-se progressivamente e incapacitando-se de procurar apoio e perdendo a sensação de controlo sobre a sua vida. Os níveis de ansiedade e a exaustão emocional aumentam com as tentativas de evitar a crise na relação, o abuso e de manter o relacionamento.
Caso equacione por fim à relação, pode temer as consequências ou represálias. Nestes casos, é muito importante que a pessoa encontre um espaço em que possa desatar e ventilar a sua vergonha, o medo e a culpa, com alguém em quem possa confiar. A intervenção da psicoterapia pode ser uma ajuda importante neste âmbito e na mobilização de recursos e desenvolvimento de competências mais assertivas, adequando um distanciamento protetor em relação ao comportamento dos outros e reconhecendo e indo ao encontro das suas necessidades emocionais de forma mais saudável e adaptativa.