Madeira

A ressurreição de Cristo foi "um facto tão histórico" que pôde ser visto

Foto Rui Silva/Aspress
Foto Rui Silva/Aspress

Na homilia da Ressurreição do Senhor, que assinala o regresso à vida de Jesus Cristo, e numa Sé catedral do Funchal repleta de fiéis, o Bispo D. Nuno Brás recordou aquele dia em que os discípulos constataram, factualmente, que esse momento tinha acontecido, primeiro com os sinais no sepulcro, sem o corpo do seu mestre, mas depois aparecendo à sua frente.

Por palavras escritas na Bíblia Sagrada, os discípulos ao depararem-se com o cenário, viram e acreditaram, mas "na verdade ainda não tinham entendido a escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos", acabara de ler um coadjuvante da homilia para os fiéis. D. Nuno Brás pegou nessa passagem do Evangelho segundo São João, que "sublinha de modo particular o verbo ver". E consubstanciou: "Maria Madalena viu a pedra tirada do sepulcro. O discípulo amado viu as ligaduras no chão. E Pedro, depois de entrar no sepulcro, viu as ligaduras no chão e o sudário. Ao sublinhar o ver, o evangelista quer dizer-nos que não nos encontramos perante um sonho, um desejo, uma imaginação de alguém, mas diante de um acontecimento, diante da verdade de um facto histórico. Tão histórico que pode, por isso, ser visto."

Para o Bispo do Funchal, nesse início de manhã, "aquilo que os discípulos viram foram apenas sinais. A pedra que faltava na porta do sepulcro e o próprio sepulcro sem o corpo de Jesus. Viram, também ,as ligaduras e o lençol, usados para envolver o corpo do crucificado, deixados abandonados no chão. Só depois desses indícios Maria Madalena se há de encontrar com Jesus, mas ainda sem o conhecer, tão impensável era o sucedido, e dado que o Senhor se mostrava agora com o seu corpo glorioso, julgando que era o jardineiro. E nessa tarde, o próprio ressuscitado se há de fazer ver, manifestar-se, ultrapassando paredes e portas fechadas e ultrapassando o próprio medo que os acontecimentos tinham causado nos discípulos, obstáculo bem maior que as portas fechadas de uma sala", acredita.

D. Nuno Brás diz, por isso, que "é o ver, mais que real, que a fé nos oferece. Os acontecimentos vividos naquele dia são únicos, irrepetíveis. Destes acontecimentos e do dinamismo da fé que eles fazem nascer, vive ainda hoje a nossa vida de crentes. Acreditamos porque os discípulos, depois de confrontados com o túmulo vazio, viram o Senhor ressuscitado e acreditaram em primeiro lugar. A nossa fé alimenta-se deste testemunho apostólico, passado de geração em geração até aos dias de hoje, dois mil anos depois. Mas alimenta-se dele, porque aqueles acontecimentos nos fazem descobrir uma realidade presente. Porque nos fazem descobrir no meio de nós o Senhor ressuscitado, connosco, a dar-nos a vida".

Por isso, reforça, "devemos também nós questionar. Que sinais temos hoje da ressurreição do Senhor? Que podemos também nós ver com os nossos olhos para acreditar? Diante de nós ergue-se a Natureza, bela, e manifestando a vida no seu esplendor primaveril. A criação e a sua evolução, seja narrada em seis dias, seja narrada em milhões de anos, não deixam de nos interrogar. E depois, que se segue a esta humanidade que, até agora, percebemos como ponto mais alto da criação? Para onde caminhamos nós? Para onde caminha esta evolução natural, a vida humana e o amor, a amizade que percebemos, que recebemos e vivemos, a entreajuda, a vida familiar? Tudo isso nos indica também, por entre a morte e o túmulo vazio, a ressurreição de Jesus. A guerra, a mentira, a opressão não foram capazes de vencer. O amor teima em ser realidade e em convidar-nos a ir mais longe. O pensamento humano, com as suas capacidades, tantas vezes mal usadas, é certo, a reflexão e a investigação científica, a criatividade da técnica, derrotando a passividade e o imobilismo, não podem deixar de nos mostrar uma nova realidade que aí surge. O mundo novo de que o ressuscitado é apenas o primeiro vivente. Eles não são esse mundo novo, mas indicam-no", confia.

Jesus que "se libertou do poder da morte para nos mostrar o caminho da vida eterna", conclui o Bispo na sua homilia desta manhã, deu o exemplo, pelo que cabe aos "cristãos, em cujo coração foi semeada a semente da vida nova, mostrar a escritura, a vida da igreja, que é a vida da fé. O hoje do Senhor ressuscitado, cabe-nos fazê-lo, encontrar por tantos que o procuram. Essa é a nossa tarefa, a nossa missão. Cabe-nos a nós cristão mostrar o Evangelho, de modo a que tantos homens e mulheres, que procuram o ressuscitado, sejam capazes de, hoje, conduzidos por todos aqueles sinais, descobrir a boa notícia, única a dar sentido, significado definitivo à nossa existência. Cristo ressuscitou verdadeiramente. De verdade ressuscitou".