O bipartidarismo chique e a falsidade verdadeira
No clássico de estratégia militar oriental de Sun Tzu (A Arte da Guerra) exorta-se que deve conhecer-se o adversário quase como nos conhecemos a nós próprios. Quando se parte para um combate é fundamental saber travar uma “luta”, tanto em superioridade como em inferioridade numérica.
Esta é a realidade, sem filtros. Num contexto regional de perda de maioria absoluta do PSD, parte da estratégia montada, minuciosamente e deliberadamente pensada, foi a de fazer passar a tese, até à exaustão, que só existe um partido para a governação (PSD), e um outro para oposição (PS). O resto é paisagem, destinada a engrossar intencionalmente a taxa de alternativa ao poder regional.
O bipartidarismo chique
Há, sem dúvida, uma estratégia montada para fazer valer externamente que só existem duas forças político-partidárias no jogo político. Os exemplos são muitos, e acumulam-se.
A estratégia é repetida, vezes sem conta, pelos cabeças de lista às eleições ou pelas lideranças partidárias, e depois replicadas por alguns órgãos de comunicação social, com o objetivo claro de reproduzir, em altifalante, o modelo do bipartidarismo chique. A falta de rigor informativo e de equidistância editorial tornam a democracia prisioneira, com a cumplicidade de vários responsáveis governativos. Parte da estratégia de informação passa por esconder a verdade e discriminar editorialmente outras forças político-partidárias.
Recordemos que a comunicação social na Região recebe apoios, e bem, do erário público. E que nessa simbiose, além do rigor e da objetividade da informação, requer-se a não discriminação tendenciosa e manipulada dos vários intervenientes. Tenhamos noção desta simbiose, porque parece que aqueles que comem e ganham bem, acham que os pratos devem ser servidos, apenas, à mesa da “burguesia bipartidária”.
Recordemos, por exemplo, que Paulo Cafôfo, nas últimas eleições regionais de 2019 passou a repetir, vezes sem conta e com a preciosa ajudinha das correntes económicas que suportam alguma imprensa essa tese do bipartidarismo, e depois caiu, irremediavelmente, na sua ligeireza e costumeira estratégia. Pela boca morreu o peixe.
A tabela dos preços do transporte marítimo e a falsidade verdadeira
Em novembro do ano passado, em conferência de imprensa, referi, com base num documento independente açoriano, que o custo de transporte marítimo de mercadorias é 18% mais caro, por quilómetro, para a Madeira do que para os Açores. Foram estas, as palavras, na sequência de uma intervenção sobre o custo de vida na Região: “Temos uma situação absolutamente vergonhosa e escandalosa, que é facto do preço do transporte marítimo de mercadorias entre um porto do continente e os Açores, e com maior distância, ser mais barato do que do Continente para a Madeira.”
No seguimento dessas declarações, o Diário de Notícias do Funchal, num texto de Ricardo Miguel Oliveira, considerou “falsas” as minhas declarações, usando, apenas, e como fonte de informação uma única tabela de tráfego da GSLines, do Grupo Sousa, o mesmo grupo que detém, também, o Diário de Notícias-Funchal. Em conclusão, o DN- Funchal publica um fact check que, em vez de retratar e analisar as várias fontes de informação ou a consulta de outras tabelas de fretes marítimos, baseia-se numa só, e de um armador da casa. Curiosamente, e intempestivamente, apenas com base nessa tabela de tráfego, ou seja, da mesma empresa que detém o órgão de imprensa, considerou “falsas” as minhas declarações. Por onde andam a objetividade e o rigor da informação?
Depois dessa reportagem de publicidade institucional, recebi inúmeros contatos e algumas tabelas paralelas que demonstram, inequivocamente, que o transporte marítimo de mercadoria é 18% mais caro, por quilómetro, para a Madeira, tal como já referido pelo atual responsável pelos portos açorianos. Uma consulta plural, independente, isenta demonstra, por exemplo, que o envio de um contentor de 40 pés, por exemplo, vindo de Lisboa para o Caniçal (954 km) tem um custo de 2,12 euros/km, (2 027,00 euros no total). No caso dos Açores, o mesmo contentor para Ponta Delgada (1 429 km) paga 1,61 euros/km (2 301,00 euros no total). E há mais informação de interesse público. Basta que sejamos amigos da causa pública, senhores de nós próprios, e não escravos dos outros.