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Milhares de argentinos pedem mais apoios para lidar com inflação crescente

A inflação é de 55,1%, nos últimos 12 meses, uma das mais altas em todo o mundo.

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Foto EPA

Milhares de pessoas manifestaram-se esta quarta-feira em Buenos Aires, onde pediram mais apoios sociais e ajuda para lidar com a inflação de 16% em três meses, que deixam os argentinos com "a corda no pescoço".

A escalada dos preços em março, divulgada esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (Indec), aumentou para 6,7%, após 3,9% em janeiro e 4,7% em fevereiro, o que levou a inflação para os 16,1% no acumulado do primeiro trimestre de 2022.

Nos últimos 12 meses, a inflação é de 55,1%, uma das mais altas em todo o mundo.

O descontrolo, agravado pelo contexto de inflação global, hipoteca o objetivo do controlo inflacionário do governo argentino para 2022.

Este objetivo era, no entanto, juntamente com a redução do défice orçamental, parte integrante do recente acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o refinanciamento da dívida de 45.000 milhões de dólares.

Com base nos primeiros meses de 2022, a inflação poderá, segundo as previsões dos analistas, aproximar-se dos 60% este ano, muito alem dos 50,9% registados em 2021 e da faixa entre os 38% e 48% que o governo esperava mantê-la este ano.

O governo procurou antecipar a situação com uma série de iniciativas implementadas desde o início do ano, como o programa anual de "preços controlados" ou o aumento de 50% no "cartão de alimentação", uma espécie de vale de alimentação para os mais carenciados.

Mas os apoios não são suficientes para muitos dos argentinos que, convocados por sindicatos e partidos à esquerda do governo, se deslocaram até à Praça de Maio, em frente ao palácio presidencial, numa manifestação por mais ajuda, alimentos e emprego.

Os argentinos reclamam que não sentiram a recuperação económica, que teve um crescimento de 10,3% em 2021, após três anos de recessão.

Apesar da pobreza ter caído globalmente, de 40% para 37,3%, no final de 2021, regressando a níveis pré-pandemia, não mudou nada para os 10,8 milhões de pobres naquele país.

"Sinto-me muito mal, a economia está a sair do controlo deste governo", destacou à agência AFP Mario Almada, pedreiro de 60 anos, beneficiário de ajudas sociais e que esteve presente na manifestação.

Apesar do dinheiro "fluir como a água", não é "suficiente para comprar comida".

"Está a começar a parecer aos poucos" os anos 1980, "quando os preços da manhã não eram os mesmos que os da tarde", sublinhou ainda, referindo-se a um período conturbado, que culminou na hiperinflação.

Atualmente, os preços aumentam "a cada quatro ou cinco dias" e "a corda está cada vez mais apertado à volta do pescoço", alerta.