Milhares de venezuelanos retomaram tradição de venerar o Nazareno de San Pablo
Milhares de venezuelanos vestidos de roxo foram hoje à Basílica de Santa Teresa (centro de Caracas) para, após dois anos da pandemia da covid-19, retomar a tradição de venerar em pessoa o Nazareno de San Pablo.
"No ano passado e no anterior não pude vir por causa da pandemia. Tudo estava restringido e tive que assistir às celebrações (religiosas) desde casa, através da televisão. Graças a Deus que hoje, mesmo com medidas de biossegurança, há menos restrições", explicou uma portuguesa à Agência Lusa.
Natural da Madeira, Maria do Rosário de Gonçalves, comerciante, 60 anos, explicou que chegou à Venezuela aos oito anos de idade e lembra que ainda era criança os pais a levavam a participar na missa e procissão do Nazareno, por quem sente uma devoção "tão grande", como a que tem por Nossa Senhora de Fátima.
"Pedi-lhe pelo fim da guerra na Ucrânia e também muita paz para a Venezuela, que o Nazareno e Nossa Senhora de Fátima iluminem os governantes e apaguem tanto ódio que há no mundo. Também muita saúde para os meus filhos e netos, e que a economia melhore para que possa voltar a visitar Portugal", disse, precisando que há mais de 10 anos que visitou o Funchal e que tem muitas saudades.
Maria do Rosário de Gonçalves explicou ainda que para que o Nazareno de San Pablo "atenda os pedidos não é preciso rezar muito, apenas um credo, um pai nosso e uma glória, mas fazê-lo com muita fé e sinceridade".
A procissão que se realiza na quarta-feira da semana santa, dura entre três e quatro horas, é algo que lhe "produz uma grande emoção, não só pela devoção, pela religiosidade, mas também porque as pessoas vestem-se todas de roxo, tudo parece mudar para essa cor num dia que é tão único, especial".
Segundo a tradição, em 1696 a Venezuela viveu uma epidemia mortal de escorbuto (falta de vitamina C) conhecida localmente como "vómito negro ou peste".
A população local rezou pedindo o fim da peste e decidiu fazer uma procissão com uma estátua de Jesus Cristo carregando a cruz, feita pelo escultor Felipe de Ribas.
Durante a procissão, a estátua do Nazareno tropeçou com um limoeiro. Vários limões caíram no chão e as pessoas correram a agarrá-los, interpretando o acontecido como um sinal do céu. Ao chegar às casas fizeram sumo e a epidemia cessou.
A veneração do Nazareno de San Pablo faz parte das tradições venezuelanas de Semana Santa, que começam na quarta-feira e se prolongam até domingo, e que incluem missas, procissões, a realização de promessas e agradecimentos por milagres concedidos. A comunidade portuguesa junta-se normalmente às cerimónias.
A quinta e sexta-feira da Semana Santa são dias festivos em que as atividades profissionais e comerciais são suspensas para permitir que a população participe nas cerimónias religiosas.
Na quinta-feira da Semana Santa os venezuelanos têm a tradição de visitar sete igrejas, evocando a ida de Jesus Cristo ao Monte dos Olivos, antes da última ceia.
Na sexta-feira da Seman Santa é feita uma procissão que evoca Paixão de Cristo. No domingo é o dia de queimar Judas em todo o país.