Resultados das eleições francesas deixam alguns partidos em dificuldades financeiras
Apenas quatro dos 12 candidatos na primeira volta das presidenciais francesas conseguiram mais de 5% dos votos, mínimo necessário para o reembolso de despesas de campanha, o que deixa em apuros partidos como Os Republicanos e os ecologistas.
Em França, apenas os candidatos com mais de 5% dos votos têm direito ao reembolso da maior parte dos custos da campanha, baseando-se o cálculo no teto máximo de uma campanha no país para a primeira volta, que é de 16,8 milhões de euros.
Assim, Emmanuel Macron (27,8%), Marine Le Pen (23,2%), Jean-Luc Mélenchon (22%) e Eric Zemmour (7,1%), os quatro primeiros na eleição de domingo, vão ter direito no máximo a 47,5% do referido valor, ou seja, oito milhões de euros cada um. Estima-se que as campanhas de Le Pen, Zémmour e Melénchon tenham custado cerca de 10 milhões de euros cada, enquanto o valor da campanha do Presidente cessante terá sido mais baixo, dado Macron ter feito menos deslocações e comícios por causa da guerra na Ucrânia.
Aos restantes oito candidatos, apenas será reembolsado 4,75% do teto máximo, ou seja, 800 mil euros, quantia que deixa em dificuldades os partidos que se endividaram para fazer a campanha, não conseguindo obter o mínimo nas urnas.
A candidata numa posição mais difícil é Valérie Pécresse, do partido Os Republicanos, que conseguiu apenas 4,8% dos votos, após uma campanha avaliada entre 14 e 15 milhões de euros. Na segunda-feira, a própria candidata veio apelar aos donativos dos militantes para poder pagar as dívidas.
"Eu endividei-me pessoalmente em cinco milhões de euros. É por isso que lanço um apelo aos donativos daqueles que votaram por mim, mas também a todos aqueles que preferiram o voto útil noutro candidato", pediu Valérie Pécresse a partir da sede do partido no 15º bairro de Paris.
O tesoureiro do partido, Daniel Fasquelle, já veio dizer que as finanças d'Os Republicanos "não estão ameaçadas", mas adiantou que a campanha das eleições legislativas, em junho, será prejudicada por esta falta de fundos.
Também os ecologistas fizeram um apelo aos donativos dos seus militantes, após Yannick Jadot, candidato d'Os Verdes, ter conseguido apenas 4,6% no escrutínio de domingo. Para fazer frente às suas despesas de campanha, este partido precisa de dois milhões de euros.
O secretário-geral do partido, Julien Bayou, diz que "todas as possibilidades estão em cima da mesa" para pagar esta dívida, incluindo "despedir funcionários do partido". A campanha terá custado um total de seis milhões de euros, um valor agravado pela renda da sede de campanha no 9º bairro de Paris que custou mensalmente 65 mil euros.
Os comunistas de Fabien Roussel, que alcançou 2,3% dos votos nas urnas, não estão preocupados por não receberem o reembolso total das suas despesas, já que não contraíram empréstimos para financiar a campanha. Esta campanha foi a primeira nos últimos 10 anos - os comunistas apoiavam habitualmente o candidato da esquerda radical Jean-Luc Melénchon - e terá custado três milhões de euros, soma coberta por fundos do partido e donativos de militantes.
Já para os socialistas, que em 2017 tiveram mesmo de vender a sua histórica sede no centro de Paris para pagar as dívidas, este é mais um fracasso eleitoral e financeiro. A sua candidata, a presidente da câmara de Paris Anne Hidalgo, obteve um mínimo histórico nas urnas, 1,75% dos votos.
No entanto, o secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure, disse que a campanha foi completamente financiada internamente e que o PS "não está falido", não excluindo, no entanto, um possível apelo a donativos, já que a campanha terá custado cerca de 10 milhões de euros.
As dívidas de campanha têm de ser pagas até ao fim do mês de maio.