Quase metade das 3,2 milhões de crianças que estão no país em risco de fome
A UNICEF alertou hoje que quase metade das 3,2 milhões de crianças ucranianas que permanecem no país estão em risco de não ter comida e água suficiente, salientando que Mariupol e Kherson são as cidades mais carenciadas.
"Voltei na semana passada de uma missão na Ucrânia. Nos meus 31 anos como funcionário humanitário, raramente vi tantos danos causados em tão pouco tempo. (...) Dentro da Ucrânia, crianças, famílias e comunidades estão sob ataque", disse o diretor de Programas de Emergência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Manuel Fontaine, numa reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação humanitária no território ucraniano.
"Ataques à infraestrutura do sistema de água e cortes de energia deixaram cerca de 1,4 milhões de pessoas sem acesso à água na Ucrânia. Outras 4,6 milhões de pessoas estão com acesso limitado. A situação é ainda pior em cidades como Mariupol e Kherson, onde as crianças e as suas famílias passaram semanas sem serviços de água canalizada e saneamento, sem fornecimento regular de alimentos e cuidados médicos", acrescentou.
De acordo com Fontaine, até ao passado domingo, mais de 140 crianças tinham sido mortas na guerra na Ucrânia e mais de 220 crianças tinham sofrido ferimentos, sendo que os números, admitiu o representante, "são provavelmente muito maiores".
Num momento em que todos os sistemas que ajudam as crianças a sobreviver também estão sob ataque, centenas de escolas e instalações educacionais foram atacadas ou usadas para fins militares, lamentou ainda o diretor da UNICEF.
A agência da ONU para as crianças informou que o encerramento de escolas em toda a Ucrânia está a afetar a aprendizagem - e o futuro - de 5,7 milhões de crianças em idade escolar e 1,5 milhões de estudantes do ensino superior.
"Na região do Donbass [leste ucraniano], toda uma geração de crianças viu as suas vidas e educação desmoronarem durante os últimos oito anos de conflito", disse Manuel Fontaine, numa referência aos confrontos travados por separatistas pró-russos e forças ucranianas nesta zona desde 2014.
Outro dos problemas que está a deixar a UNICEF sob alerta é a possibilidade de abusos e tráfico de crianças durante o conflito.
"Uma assistente social contou-me uma história sobre pais que foram forçados a enviar os seus filhos com um motorista de um camião apenas para afastá-los da linha de fogo. Essas crianças desacompanhadas correm um risco muito maior de violência, abuso, exploração e tráfico. As mulheres enfrentam riscos semelhantes. Estamos extremamente preocupados com o aumento dos relatos de abusos sexuais, violência e de outras formas de violência de género", declarou.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que provocou pelo menos 1.842 mortos e 2.493 feridos entre a população civil, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,5 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.