Especialistas chineses dizem que Ómicron é mais grave do que gripe e recusam aliviar restrições
As infeções provocadas pela variante Ómicron do coronavírus SARS-Cov-2 não devem ser geridas como um surto de gripe, disse hoje o chefe do grupo de especialistas que lidera a estratégia chinesa de contenção da covid-19, Liang Wannian.
Citado pela imprensa local, Liang disse que a taxa de mortalidade da variante Ómicron é "superior à da gripe" e que, em casos de pacientes com mais de 80 anos, é "cem vezes superior".
"O vírus sofre constantemente mutações. Não sabemos se estas mutações vão ser mais prejudiciais, o que acarretaria grandes riscos para a saúde", disse.
Segundo o especialista, a política chinesa de tolerância zero à doença covid-19 "continua a ser a melhor opção" para o país.
Com o surgimento da variante Ómicron, a China voltou ao ponto de partida na sua "batalha" contra o novo coronavírus.
O país continua a reagir a surtos de covid-19 com medidas implacáveis, incluindo o isolamento de cidades inteiras, apesar dos crescentes custos económicos e sociais.
De acordo com Liang, esta política rígida "alcança os melhores resultados com os menores custos".
O especialista em doenças contagiosas Zhang Wenhong pediu maior proteção dos grupos vulneráveis, especialmente os idosos não vacinados, e garantiu também que a Ómicron não é simplesmente uma gripe forte.
Segundo Zhang, a cidade de Xangai, onde mais de 1.400 casos sintomáticos e mais de 25.000 assintomáticos foram registados nas últimas 24 horas, deve "conter a pandemia e reduzir o número de infeções", para que a "vida normal e a produção" possam ser reestabelecidas.
Durante o confinamento da cidade tem havido problemas no acesso a cuidados médicos nos hospitais, o que causou algumas mortes por doenças não relacionadas com a covid-19.
Zhang alertou para a necessidade de "melhorar a preparação para futuros surtos, incluindo aumentar a taxa de vacinação entre os idosos, expandir o fornecimento de medicamentos e acelerar a construção de instalações para quarentena".
O epidemiologista Zhong Nanshan, um dos mais reconhecidos especialistas chineses nesta área, declarou, na sexta-feira passada, que uma "abertura completa não se encaixa na situação na China".
Vários países decidiram coexistir com o vírus, devido à baixa letalidade da Ómicron e aos seus sintomas mais leves, mas Zhang alertou para "inúmeras mortes" se as "medidas de prevenção contra o vírus fossem levantadas na China".
"Devemos aderir à estratégia de 'zero casos' e relaxar gradualmente as políticas no futuro", disse o especialista.
Segundo dados oficiais, desde o início da pandemia, 165.577 pessoas foram infetadas no país e 4.638 morreram.
A China mantém as fronteiras encerradas desde março de 2020.
Quem chega ao país tem de cumprir uma quarentena de três semanas, num hotel designado pelo Governo. As autoridades exigem a apresentação do certificado negativo dos testes serológicos tipo IgG e IgM e o teste de ácido nucleico PCR.
Isto numa altura em que a maioria dos países, incluindo na Ásia, como a Coreia do Sul, Vietname ou Singapura, reduzem gradualmente as restrições e abrem as fronteiras aos turistas.
A covid-19 provocou mais de seis milhões de mortos em todo o mundo desde o início da pandemia.
A doença é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.
A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante no mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.