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Prioridades em tempo de guerra

A invasão da Ucrânia por parte da Rússia, com crimes de guerra inimagináveis transformou a realidade em que vivemos e acima de tudo a realidade que iremos viver nos próximos tempos.

Espera-nos certamente um abrandamento da globalização da economia com evidentes implicações ao nível do crescimento económico, uma enorme pressão sobre o preço das matérias - primas, um aumento da inflação com a inevitável subida das taxas de juro e um aumento do custo da energia e do preço dos combustíveis.

Esta nova realidade que existe desde 24 de fevereiro deve levar a um reajustamento das prioridades governativas e a uma alteração substantiva das prioridades de todos os Orçamentos, um pouco por todo o mundo.

Os Orçamentos não devem ser uma mera compilação de números, mas a declaração mais significativa das prioridades de uma nação ou de um povo.

Não há dúvidas de que perante as consequências previsíveis desta terrível guerra que se abateu sobre a Europa as prioridades devem ser as pessoas, as famílias e as empresas.

A União Europeia está neste momento a reformular as suas prioridades e a forçar os Estados - membros a se prepararem para as ameaças e para os desafios que se avizinham.

O resultado é uma reorganização repentina dos Orçamentos, colocando as despesas com a defesa, com os bens essenciais, com a agricultura, a energia e a assistência humanitária, bem como com outras necessidades urgentes como a educação e a área social no topo da lista das prioridades.

Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz prometeu aumentar os seus gastos com a defesa em mais de 2% do PIB.

A Irlanda reduziu os impostos sobre os combustíveis, aprovou um crédito de energia para as famílias com baixos rendimentos e um pagamento adicional de €400 por hectare por forma a incentivar os agricultores a cultivar cereais, como a cevada, a aveia e o trigo, reactivando o programa “wartime tillage” que existiu na segunda guerra mundial.

A Espanha pediu à Comissão Europeia para flexibilizar as regras sobre as importações agrícolas latino-americanas, nomeadamente no milho da Argentina, para compensar a falta de oferta nas rações para animais.

Estes exemplos concretos de medidas que foram assumidas como prioritárias para acudir aos efeitos dramáticos da guerra junto das famílias, dos agricultores, dos empresários devem obrigar – nos a uma profunda reflexão.

Os próximos Orçamentos em Portugal devem também reajustar as suas prioridades e conter medidas concretas para minimizar os efeitos da guerra, colocando as pessoas no centro da governação.

Em tempo de guerra, as prioridades devem ser outras.

Quem governa deve ter a responsabilidade de adoptar medidas para proteger os mais desprotegidos, para melhorar o nível de vida de todos os cidadãos e para preparar o inesperado.

Quem governa deve promover o rigor, melhorar a competitividade, aumentar a produtividade e premiar o mérito.

Precisamos urgentemente de uma abordagem diferente, de novas políticas, de mais espírito reformista, de menos Estado e de mais sociedade civil.