Caravana humanitária da ONU entra no Tigray pela primeira vez em três meses
A região etíope do Tigray, palco de guerra, recebeu uma caravana de abastecimento do Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas, pela primeira vez em três meses, informou o gabinete local da organização humanitária.
"As caravanas lideradas pelo PMA rumo ao Tigray estão de novo a caminho e progredindo constantemente" e esperam "estar em breve em Mekele", lê-se numa publicação na conta oficial do PMA na rede social Twitter, citada pela agência espanhola Efe.
Os camiões que compõem a caravana transportam mais de 500 toneladas de produtos alimentares, urgentemente necessários para as comunidades à beira da fome.
Outra caravana, com mais de 1.000 toneladas de alimentos vai chegar "ao norte de Afar [região fronteiriça ao Tigray] esta tarde para os entregar a comunidade com necessidade extrema", acrescenta o PMA.
O porta-voz da Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF, adversária do Governo federal da Etiópia), Getachew Reda, confirmou esta informação também via Twitter: "Vinte camiões do PMA chegaram à nossa linha de controlo dirigidos a Mekele".
Reda acrescentou que este era um "passo na direção correta", ainda que para si o mais importante não seja a quantidade de camiões que conseguem passar, mas sim se existe um sistema para garantir o acesso dos mais necessitados à ajuda humanitária, sem restrições.
Este apoio chegou a Tigray após o Governo federal do primeiro-ministro Abiy Ahmed ter decretado, no dia 24 de março, uma "trégua humanitária unilateral" para permitir "a livre circulação de ajuda humanitária para quem precisa de assistência" no Tigray.
A TPLF aceitou a iniciativa, anunciando também um "cessar das hostilidades" para a região que a ONU diz estar há meses sob bloqueio, visto nenhum comboio de ajuda conseguir entrar desde 15 de dezembro de 2021.
As forças governamentais e os independentistas do Tigray confrontam-se no norte da Etiópia desde que, em novembro de 2020, Abiy Ahmed, prémio Nobel da paz no ano anterior, enviou o exército federal para desalojar as autoridades da região, governada pela Frente de Libertação do Povo do Trigray (TPLF), que contestava a autoridade de Ahmed há meses.
Rapidamente derrotadas, as tropas rebeldes do TPLF conseguiram, no ano passado, recuperar militarmente a zona de Tigray e o conflito alastrou às regiões vizinhas de Amhara e Afar, causando vários milhares de mortos.
O conflito desencadeou uma grave crise humanitária no norte da Etiópia, onde mais de nove milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar, de acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU.
No Tigray, o PAM indicou, em janeiro, que 4,6 milhões de pessoas, ou 83% de cerca de seis milhões de habitantes da região, estão em situação de "insegurança alimentar", enquanto que dois milhões sofrem de "extrema penúria alimentar".