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ONU anuncia painel para analisar credibilidade das promessas das empresas

Foto Koca Vehbi/Shutterstock.com
Foto Koca Vehbi/Shutterstock.com

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, anunciou na quinta-feira um painel para averiguar se as promessas das empresas para combater as alterações climáticas são credíveis ou mera gestão de imagem.

Nos últimos anos, assiste-se a um crescimento acentuado de promessas feitas por empresas -- incluindo do petróleo e gás -- de redução das suas emissões de gases com efeito de estufa a "zero, em termos líquidos", perante as expectativas sociais de cumprirem a sua parte para cortar a poluição.

A classificação destas promessas, porém, não é unânime, com muitas consideradas pouco claras e algumas mesmo a serem apontadas como tendo sido concebidas para fazerem as empresas ficarem bem 'na fotografia', apesar de, na realidade, contribuírem para o aquecimento global, o designado 'greenwashing', em Inglês.

"Os governos têm a parte de leão na responsabilidade para se conseguir emissões zero, em termos líquidos, até meados do século", disse Guterres, apontando que isto é particularmente verdade para o Grupo das 20 principais economias, que representam 80% das emissões dos gases com efeito de estufa.

"Mas também precisamos com urgência de todos -- empresários, investidores, cidades, Estados e regiões -- que façam o que prometem em termos de promessas de zero emissões", disse.

Liderado por um ex-ministro canadiano do Ambiente, o painel, integrado por 16 pessoas, vai fazer recomendações antes do final do ano sobre os padrões e as definições relativas às emissões zero em termos líquidos, como medir e verificar os progressos conseguidos e a forma de os consagrar em regulações nacionais e internacionais.

Além de examinar as promessas de zero emissões pelo setor privado, o painel vai também escrutinar os compromissos feitos pelos governos, ao nível nacional e local, que não reportam diretamente à ONU.

Entre os membros do painel estão o cientista australiano do clima Bill Hare, um perito sul-africano em finanças, Malango Mughogho, e o antigo governador do Banco da China, Zhou Xiaochuan.

O grupo vai ser liderado por Catherine McKenna, que chefiou o Ministério do Ambiente e Alterações Climáticas do Canadá, entre 2015 e 2019.

Um relatório recente do painel Intergovernamental sobre alterações Climáticas (IPCC, na sigla em Inglês) apontou que mais de três mil milhões de pessoas, em todo o mundo, já estão em situação de risco por causa das alterações climáticas.

O IPCC vai divulgar outro relatório na próxima semana, em que se espera que confirme que o mundo não está a evoluir no sentido de limitar o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global em 1,5 graus centígrados até ao fim do século, como acordado em Paris em 2015.

"Se não virmos reduções das emissões dos gases com efeito de estufa, de forma significativa e sustentada, esta década, a janela de oportunidade de manter vivo [o objetivo de] 1,5 graus vai ser fechada - para sempre", declarou Guterres. "E isso vai ser um desastre para todos".