A Guerra Mundo

Rússia coloca generais na frente de combate para compensar dificuldades

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A morte de dois generais russos na frente ucraniana, recentemente tornada pública, indicará que a Rússia decidiu colocar altas patentes militares na linha da frente, para compensar dificuldades e fragilidades, segundo vários analistas citados pela France-Presse (AFP).

A autarquia da cidade de Novorosiysk, no sul da Rússia, confirmou na semana passada que o major-general Andrei Sukhovetsky, que comandava a 7.ª Divisão Aérea russa e que também chegou a ser comandante adjunto do 41.º Exército Combinado de Armas, morreu como "um herói" na Ucrânia, depois de ter servido, entre outras missões, na campanha militar russa na Síria (2018-2019).

O general Vitali Gerassimov - que não deve ser confundido com o chefe do Estado-Maior russo Valeri Gerassimov - também terá morrido em combate, de acordo com Kiev, informação que foi, entretanto, desmentida por Moscovo.

Um canal pró-Kremlin na rede Telegram afirmou hoje que Gerassimov estava "vivo, em boa forma e a cumprir as suas tarefas militares".

"Outro general de duas estrelas foi morto hoje no lado russo, é o segundo em 12 dias", disse o general norte-americano aposentado Mark Hertling em declarações à estação CNN, citado pela AFP, observando que o Exército russo está a cometer "repetidos erros", incluindo "comunicar por meios não criptografados".

Rumores mais difíceis de verificar relataram nos últimos dias que outros oficiais russos foram mortos.

"Isto significa que pode estar a ser necessário que um líder vá para a frente de combate e se exponha, dadas as dificuldades", disse uma fonte militar, em declarações à agência AFP.

Esta informação aponta para as dificuldades que o Exército russo poderá estar a enfrentar no terreno, ao ter sido confrontado desde o início da invasão da Ucrânia com uma resistência feroz e com múltiplas dificuldades de comando, estratégia e abastecimento.

"Relatada a morte de vários generais russos, sinal da necessidade de os comandantes de grandes unidades irem diretamente até à frente de combate, para contornar uma cadeia de comando saturada e compensar a falta de iniciativa das unidades", escreveu na rede social Twitter, no sábado, o ex-coronel francês Michel Goya, um observador atento do atual conflito.

Todos os analistas consultados pela AFP convergiram sobre as inesperadas fragilidades manifestadas pelo Exército russo nesta ofensiva.

Alexander Grinberg, analista do Instituto de Segurança e Estratégia de Jerusalém (JISS), considerou que, embora as condições da morte de Gerasimov permaneçam desconhecidas, Sukhovetsky terá sido morto aparentemente por um franco-atirador.

"Foi morto dois dias depois do início da operação porque ninguém realmente esperava a guerra. Acreditava que se trataria de uma operação de colocar em Kiev um Governo fiel a Moscovo", explicou Grinberg.

Na opinião de Elie Tenenbaum, investigador do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), a presença no terreno de oficiais deste nível prova que Moscovo "está a pedir aos generais que estejam à frente das tropas e assumam riscos" para compensar uma situação moral difícil.

"As forças russas só foram informadas da natureza das operações 24 horas antes. Algumas só foram informadas depois de entrarem na Ucrânia. Portanto, há um grave problema de confiança em relação às chefias", indicou Tenenbaum, referindo-se a "problemas de moral das tropas e provavelmente deserção, com veículos abandonados em campo aberto".

Ainda assim, o investigador do IFRI diz que convém não sobrevalorizar a importância estratégica destas baixas, embora reconheça que a situação esteja a causar "danos" no prestígio das forças russas.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que, segundo os mais recentes dados da ONU, fez pelo menos 406 mortos e mais de 800 feridos entre a população civil e causou a fuga de mais de dois milhões de pessoas para os países vizinhos.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e financeiras a Moscovo.

O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a "operação militar especial" na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.