'A Guerra não tem rosto de Mulher’
Num dia em que se dão flores, chocolates e poemas, há um livro que nos sacode
Boa noite!
Neste Dia da Mulher, entre a abundante partilha de flores, de mensagens, de poemas e de chocolates, ou entre legítimos e recomendáveis desejos de igualdade de oportunidades e direitos, dei comigo a pensar na realidade cruel que nos invade os olhos por estes dias. Que futuro terão todas quantas foram obrigadas a deixar família e lar por causa da guerra em curso na Ucrânia? E que vida têm as mulheres que renunciaram ao refúgio onde há paz garantida, que não sossega o sobressalto interior permanente, e que por isso preferiram combater junto dos seus homens?.
A propósito deste quadro doloroso, há um livro em que a Prémio Nobel de Literatura de 2015 dá voz a centenas de mulheres que revelam pela primeira vez a perspectiva feminina da Segunda Guerra Mundial. ‘A Guerra Não Tem Rosto de Mulher’ é o titulo da obra de estreia de Svetlana Alexievich, reescrita em 2002, quando a autora adicionou excertos com uma força que, antes, a censura não lhe tinha permitido mostrar.
A sinopse é eloquente: O número de mulheres combatentes no Exército Vermelho chegou quase a um milhão, mas a sua história nunca foi contada. Este livro, marcado pelo estilo pungente de Svetlana Alexievich, apresenta testemunhos de mais de 200 jovens russas que passaram de filhas, mães, irmãs e noivas a atiradoras, condutoras de tanques ou enfermeiras em hospitais de campanha. O seu relato não é uma história de guerra, nem de combate; é uma história de mulheres e homens catapultados "da sua vida simples para a profundeza épica de um enorme acontecimento". Em que pensavam? De que tinham medo? Como foi aprender a matar? É sobre isto que estas mulheres falam, mostrando uma faceta do conflito sobre a qual não se escreve. Descrevem a sujidade e o frio, a fome e a violência sexual, a angústia e a sombra permanente da morte.
Como a humanidade não aprendeu com a história ou esqueceu-se depressa da angústia vivida outrora, a humilhação repete-se e a morte instala-se. Coragem bravas mulheres.