Embaixadora aponta "responsabilidade moral" aos países que recusam zona de exclusão aérea
A embaixadora da Ucrânia em Portugal responsabilizou as tropas russas pelas mortes na guerra, mas considerou hoje que os países que recusaram até agora a aprovação de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia partilham uma "responsabilidade moral".
Em entrevista à Lusa, Inna Ohnivets reiterou o apelo para a viabilização internacional de uma zona de exclusão aérea e denunciou a violação pela Rússia do respeito pela segurança nos corredores humanitários que foram anunciados na segunda-feira, nomeadamente em relação a Mariupol, no sul do país. A diplomata lamentou a "situação dramática" que se vive nessa cidade, onde hoje foi relatada a morte de uma criança por desidratação sob as ruínas da casa destruída.
"O presidente ucraniano apela ao mundo para ouvir a Ucrânia: precisamos dos corredores humanitários para estas pessoas. O presidente sublinhou que a responsabilidade por esta situação é do Estado russo, mas a responsabilidade moral também recai sobre aqueles que hesitam em aprovar a decisão sobre 'no fly zone' [zona de exclusão aérea]. Por isso, apelamos à introdução deste mecanismo e a fechar o céu sobre a Ucrânia", afirmou Inna Ohnivets.
A embaixadora ucraniana reconheceu que o corredor seguro estabelecido em Sumy, ocupada pelas tropas russas, está a funcionar sem incidentes e que este é "um primeiro passo" nas negociações entre os dois países. Pelo menos 21 pessoas morreram na segunda-feira na sequência de ataques aéreos contra esta cidade perto da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, de acordo com informações das autoridades ucranianas.
"A parte ucraniana continua a realizar as negociações com a parte russa, porque a Ucrânia está pronta para estabelecer a paz na Ucrânia e usar todos os meios diplomáticos. Mas, como podemos ver, a parte russa não está disposta a fazer isto", referiu, sem deixar de manifestar a esperança de que o respeito por este corredor humanitário possa significar "a possibilidade de ter uma vida normal" para as pessoas nas cidades ocupadas pelas tropas russas.
Apesar das três tentativas negociais já realizadas, Inna Ohnivets constatou as dificuldades de diálogo com o Presidente russo, Vladimir Putin, a quem acusou de conduzir "um regime autocrático que realiza terrorismo na prática". Sobre eventuais concessões negociais de um lado e do outro, a diplomata garantiu que a integridade territorial da Ucrânia é inegociável.
"A Ucrânia não vai desistir do seu território e essa é a posição normal para um país soberano como a Ucrânia. Podemos ver como as tropas russas ocupam o território ucraniano e como a população sofre com esta ocupação. O ditador Putin declarou que vai realizar uma operação humanitária na Ucrânia, mas isso é um apelo muito cínico. A Rússia de Putin realiza um projeto muito semelhante ao que Hitler realizou na Alemanha nazi", salientou.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 406 mortos e mais de 800 feridos entre a população civil e provocou a fuga de mais de dois milhões de pessoas para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.