Macron denuncia cinismo "moral" da Rússia sobre corredores humanitários
O Presidente de França e candidato à reeleição, Emmanuel Macron, considerou hoje que a Rússia cai num "cinismo moral e político" ao propor corredores humanitários que acabam por levar os refugiados ucranianos a este país.
"Tudo isto não é sério. É um cinismo moral e político que me parece insuportável", disse em entrevista ao canal TF1.
Macron sublinhou ser "necessário que o pessoal humanitário possa intervir", que haja tréguas completas quando atuam, para colocar sob proteção as mulheres, as crianças e os homens que devem ser protegidos, e assim retirá-los da zona de conflito.
"Não se trata apenas de corredores humanitários, que são constantemente ameaçados, nem desse discurso hipócrita que consiste em dizer 'vamos proteger as pessoas para as levar para a Rússia'", afirmou, durante a primeira entrevista que deu como candidato de novo ao Eliseu.
A França negou hoje que Macron tenha pedido na última conversa com Putin, no domingo, a abertura de corredores humanitários em direção à Rússia, a partir das cidades ucranianas que estão a ser atacadas.
A Presidência francesa reiterou que o que Paris exige à Rússia, tendo sido o que solicitou Macron, foi o fim dos combates, a proteção dos civis e a chegada, "sem obstáculos", de ajuda humanitária.
Em comunicado publicado depois desta conversa, que durou uma hora e 45 minutos, o Eliseu insistiu que o respeito pelo direito internacional humanitário significa, antes de mais, "parar os bombardeamentos e a ofensiva".
A Rússia decidiu abrir corredores humanitários para civis desde as cidades de Kiev, Mariupol, Jarkov e Sumi, apesar de as intenções anteriores falharem, por operações militares de que ambas as partes se acusam.
"A situação é hoje mais preocupante do que ontem. Quando um país sofre todos os dias bombardeamentos e ataques, primeiro há mortos. Morrem mulheres, homens e crianças. Instala-se logo um cansaço e as condições humanitárias degradam-se", declarou Macron.
Após admitir que a via diplomática empreendida até agora não conseguiu o cessar-fogo da Rússia, o chefe de Estado francês apontou que a sua ação se concentra em "tentar evitar catástrofes", porque a Ucrânia tem quatro centrais nucleares ativas e outra, Chernobil, que "ainda é muito sensível".
"Fazemos o que podemos para facilitar a discussão entre a Rússia e a Ucrânia", acrescentou o Presidente, segundo o qual a França continuará a aumentar a pressão sobre o Presidente russo, Vladimir Putin, através de novas sanções.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que, segundo as autoridades de Kiev, já fez mais de 2.000 mortos entre a população civil.
Os ataques provocaram também a fuga de mais de 1,7 milhões de pessoas para os países vizinhos, de acordo com a ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.