As três desordens nas mentiras do diabo
As tentações do diabo são guerras de desinformação e mentira. E as guerras dos homens imitam-nas. Em cada início da quaresma o demónio propõe três mentiras como seu programa de desordem e caos. Este ano vem tecido pelo estilo do helenista Lucas que nos diz que investigou tudo sobre o que se dizia de Jesus. Satanás submeteu Jesus a três desordens baseadas em mentiras. Logo de entrada propõe que para os problemas da vida tudo se pode resolver com o comer e beber, com o material. A grande tentação humana é conseguir isso e até realizar o paraíso aqui nesta velha terra, tornando desnecessária a vida eterna prometida pela Palavra de Deus. E Jesus, se quer resolver tudo com o seu poder de Filho de Deus, basta usá-lo e alinhar com este programa diabólico. A Palavra de Deus não interessa.
Cada tentação é um fake news. O mais enganado foi o demónio quando se convenceu que iria tentar e vencer o próprio Jesus e levá-lo a fazer o que ele queria. O demónio, derrotado, não se deu por vencido. Já que Jesus não quer seguir a minha proposta, cogitou, vou apresentar-me como solução; e dá uma volta à primeira tentação. As tentações do diabo são guerras inglórias, para ele; muito mais armadilhadas de enganos que a atual diabólica e nebulosa guerra da Ucrânia que traz sofrimento e morte para milhares de crianças inocentes, mães e pais. A primeira tentação do diabo foi mentir que a vida do homem depende só da matéria feita pão. Recebeu logo a primeira derrota à mentira com a verdade de que só de pão não se vive na plenitude; é precisa a Palavra de Deus.
A segunda tentação é ainda mais mentirosa. Ora vejam: ele, diabo, até pode dar tudo e fazer rico a quem o adora como deus. Deus não faz falta, nem a sua Palavra.
Basta ele, demónio, para salvar a todos e dar a abundância do mundo todo. Mentira descarada; afinal, tudo dele, falso; e quem quisesse ser o mais rico só tinha que o adorar. Uma bagatela! Não será que as guerras de ambição de poder e de ter mais que todos não são todas fake news de mentira, ilusão, paranóia e ridículo? A pretensão de se pôr diante das suas fortunas bilionárias e ouvir do demónio o desafio: agora, aí de joelhos e adora-me, não o que tu pensas que te dei, mas a mim, demónio.
Eu é que sou o teu deus, o dono de tudo, a tua riqueza. No mesmo momento, o eu inflacionado do avarento cairia no ridículo do bobo; e esvaziar-se-ia da sua importância. Mas o diabo ainda ficou mais humilhado diante de Jesus ao ver-se derrotado com a verdade das verdades: só o Senhor, teu Deus, adorarás. Uma alfinetada valente no balão da grande mentira do balão do eu.
A terceira tentação foi igualmente atrevida e mentirosa. Engrandece-te, ocupa o pináculo da fama e da glória, não tens que te humilhar diante de Deus e servi-Lo com temor e amor. Não vai ser precisa a palavra de Deus, nem precisas de mim como teu deus. Tu bastas-te a ti mesmo. Até Deus se põe ao teu serviço e fará tudo para que tu apareças grande e famoso, divino, à vista de toda gente. Até Deus está ao serviço do homem de grande fama. O super-homem é deus e Deus o seu criado, se é que Deus existe, duvida o famoso.
Cada uma das tentações é guerra de mentira e desinformação. É falso que se pode viver só da matéria morta; falso que o diabo dá tudo, quando nada tem de seu, e mente que possa comprar a liberdade do homem com dinheiro roubado ao Dono criador de todos os bens. Mais mentiroso ainda ao pretender enganar que o Senhor do Céu e da terra é servo do homem e o super-homem senhor do Senhor. Seria então mentira que o homem é criado para servir a Deus e aos seus irmãos para ser feliz neste amor, harmonia e santidade? As respostas de Jesus estão aí para os homens de todos os tempos como caminho, verdade e vida a desmentir o mentiroso.
A Palavra de Deus está cheia de verdade e vida; as tentações do demónio, cheias de mentira, desordem e morte. A Palavra de Deus basta para percorrer o caminho sinodal e não podem ser esquecidas nestes tempos em que circulam desinformações e caos de Babel. Parece que depois de se retirar um certo tempo, o Demónio teve autorização de Deus para voltar às suas mentiras (Cf. Lc 4, 1-13).
Aires Gameiro