Análise

Uma enorme decepção

No discurso inaugural do congresso do PSD faltou ao líder visão de futuro

1. Não há forma de desligar da guerra na Ucrânia, perpetrada por um gigante impiedoso e astuto, despido de humanidade e dos valores democráticos que devem reger as nações, no caminho da paz e do desenvolvimento. No horizonte, o fantasma de um ataque nuclear e o envolvimento global provocado pela acção narcísica de um líder autoritário, que não poupa património nacional, hospitais, universidades, escolas, creches, residências e, mais chocante ainda, vidas humanas, nomeadamente a de jovens, bebés e idosos indefesos.

O mundo público e privado une-se como nunca para encostar a Rússia às cordas. As sociedades ocidentais mobilizam-se na ajuda ao povo sofrido da Ucrânia, relegado para caves que os protege (até ver) do avanço assassino das tropas comandadas por Putin. À memória, ressurgem as terríveis imagens da ocupação nazi na Segunda Grande Guerra. Não podemos baixar os braços perante a barbárie e todos somos poucos para protestar bem alto que nenhum país pode ser atacado numa lógica expansionista e revisionista de um passado triste. Esta guerra põe a nu a fragilidade da nossa democracia e inaugura uma nova ordem mundial. Estamos a fazer o que nos compete. Portugal respondeu à altura, o governo agilizou procedimentos no apoio aos refugiados, os partidos condenaram a invasão. Bem… nem todos. O Partido Comunista optou por ser a excepção à regra e, enredado num discurso que tem tanto de dúbio como de cínico, não consegue verbalizar, de forma clara, a condenação do agressor. A postura do PCP, da luta contra a ditadura, dos direitos dos trabalhadores, demonstra que a sua reserva mental em relação aos valores básicos da liberdade, à União Europeia, à NATO e aos países ocidentais, agudiza-se em pleno século XXI. Vem com isto apenas comprovar que é o partido que apoia o regime de Nicolás Maduro, o Presidente da Venezuela, e que tem dúvidas sobre se efectivamente a Coreia do Norte é uma ditadura. Estamos mais do que esclarecidos sobre o modus operandi dos comunistas e sobre o seu posicionamento no Mundo. Não é mais do que uma imagem pálida do seu passado lutador. Estará cada vez mais à margem do sistema e reduzido à sua insignificância, para bem da nossa democracia. Shame on you, camaradas! Sobre o Bloco de Esquerda não vale a pena discorrer muito. Insignificante na Região, trilhará igualmente o caminho da indiferença, caso não mude de vida.

Por cá, o Governo Regional e as autarquias estiveram bem nas iniciativas de apoio aos ucranianos. Precisamos de gente como de pão para a boca e todos os que vierem por bem são bem-vindos.

2. O PSD-M, que acaba de sair do seu XVIII Congresso, não vai arriscar nada de novo em relação ao relacionamento que deve manter com a República. É mais do mesmo. Gritaria em vez de diplomacia firme e determinada na defesa dos interesses da Madeira.

A postura de Miguel Albuquerque, imortalizada pelo seu antecessor, com os resultados que todos conhecemos, deve fugir à matriz que tem guiado o partido neste quase meio século de autonomia política. Nenhum governo central, muito menos com maioria absoluta, se amedronta com a berraria da Quinta Vigia. Que o diga Cavaco Silva e Passos Coelho. O partido dominante tem de se despir de preconceitos face a Lisboa e inaugurar um novo tempo, mais racional e menos temperamental.

No discurso inaugural do congresso faltou ao líder visão de futuro. Falou para dentro, ratificando a ‘santa aliança’ com o CDS. Nada de novo sobre a Terra.