A Guerra Mundo

EUA condenam na ONU ataque russo a central nuclear

Rússia continua a rejeitar a autoria do ataque, classificando as afirmações de Kiev como "mentiras".

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Foto EPA/JUSTIN LANE

Os Estados Unidos condenaram hoje no Conselho de Segurança da ONU o ataque russo a uma central nuclear ucraniana, classificando-o como "uma enorme ameaça para toda a Europa e o mundo", enquanto a Rússia rejeitou qualquer responsabilidade.

"Graças a Deus, o mundo escapou a uma catástrofe nuclear" durante a noite, disse a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, descrevendo o ataque russo como "irresponsável" e "perigoso".

"Não só [Vladimir Putin] não ouviu" os apelos para pôr fim à sua invasão da Ucrânia, "como acabamos de assistir a uma perigosa nova escalada no conflito, que representa uma enorme ameaça para toda a Europa e para o mundo", sustentou a diplomata.

O seu homólogo russo, Vassily Nebenzia, rejeitou as afirmações da Ucrânia e do Ocidente segundo as quais Moscovo é responsável pelo ataque à central nuclear ucraniana de Zaporiyia, no sudeste do país, classificando-as como "mentiras".

Fazem "parte de uma campanha de mentiras" contra Moscovo, defendeu.

O diplomata russo também afirmou que a Ucrânia foi responsável pelo incêndio que deflagrou a seguir ao bombardeamento à instalação nuclear de Zaporiyia.

Vassily Nebenzia reconheceu, contudo, que combates envolvendo militares russos decorriam na zona em causa. Mas falou de trocas de tiros de "armas ligeiras" que não incluíam, segundo ele, bombardeamentos.

O embaixador russo afirmou que a segurança da central nuclear está assegurada, pedindo ao Ocidente para "se acalmar".

Por sua vez, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, numa nova troca de palavras tensa com o seu homólogo russo, exigiu-lhe que "parasse de dizer mentiras".

"Está em contacto com a sua capital?", perguntou-lhe, espantado com as afirmações proferidas pelo diplomata russo.

Os inspetores de segurança nuclear ucraniana "viram ser-lhes recusado o acesso" às instalações nucleares de Zaporiyia, denunciou o diplomata ucraniano.

Sergiy Kyslytsya indicou ter pedido formalmente, numa carta à ONU, para criar uma zona de exclusão aérea para o seu país, reafirmando que "zonas residenciais estão a ser reduzidas a ruínas" e que "civis pacíficos estão a ser mortos".

Devido ao direito de veto da Rússia no Conselho de Segurança, não há qualquer hipótese de este órgão das Nações Unidas criar essa zona de exclusão aérea, já rejeitada pela NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte).

"A comunidade internacional deve manter a cabeça fria e permanecer racional", sublinhou o embaixador chinês na ONU, Zhang Jun.

"Não se deve pôr mais lenha na fogueira", acrescentou, apelando para o diálogo.

Na sessão de emergência do Conselho de Segurança, pedida pelo Reino Unido, a embaixadora britânica, Barbara Woodward, frisou que não há qualquer dúvida de que foram "as forças russas que atacaram" Zaporiyia, onde se situa a maior central nuclear da Europa.

No início da sessão, Rosemary DiCarlo, secretária-geral-adjunta da ONU para os Assuntos Políticos, sublinhou que "os ataques a centrais nucleares são contra o direito internacional humanitário".

Por sua vez, Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), salientou, numa ligação vídeo em direto de um avião em rota para Teerão, "a importância" da quinzena de centrais nucleares implantadas na Ucrânia, declarando-se pronto para lá se deslocar e precisando que já fez o pedido à Ucrânia e à Rússia, que "está a analisá-lo".

Esta missão da AIEA seria limitada à "segurança" desses locais, sem intervenção política, sustentou.

Zaporiyia foi atingida na madrugada de hoje por artilharia russa, segundo as autoridades ucranianas. Edifícios anexos à central foram alvo de um incêndio.

Hoje, o exército russo ocupava a central. O regulador ucraniano indicou que o fogo, que atingiu um laboratório e um edifício de formação, foi extinto e que não foi detetada qualquer fuga radioativa.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já fizeram mais de 1,2 milhões de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.

O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a "operação militar especial" na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.