Rússia está a mobilizar tropas para uma ofensiva final no Donbass
A Rússia está a mobilizar a maior parte das suas tropas para uma ofensiva final no Donbass, com o objetivo de ter o controlo total das regiões de Donetsk e Lugansk, referiu hoje fonte do Exército da Ucrânia.
O objetivo de Moscovo é obter "o controlo total do território das regiões de Donetsk e Lugansk", onde as milícias separatistas lutam lado a lado com as forças russas, apontou o Estado-Maior do Exército ucraniano.
Para o Estado-Maior ucraniano, as manobras dos últimos dias das forças russas terão como objetivo a formação de "um grupo das Forças Armadas para lançar uma ofensiva final" no Donbass.
Nas últimas horas o Exército russo concentrou-se em esmagar, com mísseis de cruzeiro de alta precisão lançados de aviões de combate, os tanques que fornecem combustível às forças ucranianas destacadas no Donbass, incluindo ainda aquelas na região vizinha de Dnipro.
Além disso, avançaram mais seis quilómetros, depois de cruzarem o rio Kashlagach, que fica na direção da região de Zaporizhzhia, sob controle russo há semanas.
O objetivo deste avanço é uma união com as forças russas localizadas em Zaporizhzhia para depois executar uma viragem a norte, onde fica Kramatorsk, o principal reduto militar ucraniano na área desde 2014.
A Rússia alega que bloqueou as principais linhas de comunicação e abastecimento ucranianos, o que impediria a chegada de reforços à frente de combate em Donbass.
Já os separatistas pró-russos da região ucraniana de Donbass disseram hoje que controlam quase todo o território da autoproclamada república de Lugansk e mais de metade do de Donetsk.
Após o início da invasão, a 24 de fevereiro, os separatistas, em guerra contra o Governo da Ucrânia desde 2014, controlavam um terço de cada uma das duas regiões: 8.900 quilómetros quadrados dos 26.500 km2 de Donetsk e 8.400 km2 de toda a zona de Lugansk com 26.700 km2.
Na região de Donetsk, Mariupol foi severamente atingida pelos ataques das forças russas, que cercam a cidade há semanas.
As declarações dos separatistas não puderam ser verificadas por fontes independentes.
Na terça-feira, Moscovo anunciou após conversações na terça-feira com negociadores ucranianos em Istambul, que iria reduzir as suas atividades em torno de Kiev e Chernihiv num gesto para aliviar a pressão e ajudar as conversações a encaminhar-se para um acordo.
Segundo o Estado-Maior do Exército ucraniano, as tropas russas que se retiraram para a Bielorrússia partiram daquele país para a Rússia, de comboio.
O consórcio nuclear ucraniano Energoatom divulgou ainda que as forças russas abandonaram a antiga central nuclear de Chernobyl, que controlavam desde o início da invasão, deixando apenas um pequeno contingente.
Vadim Denisenko, conselheiro do ministro do Interior ucraniano, acrescentou que um grande número de soldados russos foi exposto a radiação em ações numa área conhecida como Floresta Vermelha.
Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse hoje que, de acordo com os serviços de informações da Aliança Atlântica, a Rússia não está a retirar as suas tropas da Ucrânia, mas sim a reposicioná-las, sendo de esperar "ofensivas suplementares".
"A Rússia mentiu repetidamente sobre as suas intenções, pelo que só podemos julgar a Rússia pelas suas ações, não pelas suas palavras. E, de acordo com os nossos serviços de informações, as unidades russas não estão a retirar, mas sim a reposicionar-se", disse.
Segundo o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, "a Rússia está a tentar reagrupar-se, reabastecer-se e reforçar a sua ofensiva na região do Donbass e, ao mesmo tempo, a Rússia mantém pressão sobre Kiev e outras cidades", assistindo-se a "bombardeamentos contínuos das cidades" ucranianas.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.232 civis, incluindo 112 crianças, e feriu 1.935, entre os quais 149 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.