China tenta reduzir impacto económico de confinamento de Xangai
Cidade mais populosa da China está confinada para conter surtos do novo coronavírus
As autoridades de Xangai, que está sob confinamento, prometeram hoje reduzir impostos para comerciantes e manter o porto da cidade, o mais movimentado do mundo, a operar, visando limitar as interrupções na indústria e comércio.
A paralisação da maioria das atividades na cidade mais populosa da China, para conter surtos do novo coronavírus, abalou os mercados financeiros, já apreensivos com a guerra na Ucrânia, a subida das taxas de juros nos Estados Unidos, e a desaceleração da economia chinesa.
Mas o Partido Comunista Chinês está a tentar ajustar a sua estratégia de "tolerância zero" à covid-19, para conter a perda de empregos e outros custos para a segunda maior economia do mundo.
O governo de Xangai anunciou cortes nos impostos, redução dos preços do aluguer de espaços comerciais e empréstimos com taxas reduzidas para as pequenas empresas.
Uma declaração do Governo emitida hoje prometeu também "estabilizar os empregos" e "otimizar o ambiente de negócios".
No porto de Xangai, as operações continuaram com normalidade e os responsáveis fizeram esforços extra para garantir que os navios "possam fazer descargas normalmente", informou a televisão estatal chinesa.
O porto serve o delta do rio Yangtsé, uma das regiões industriais mais movimentadas do mundo, concentrando fabricantes de telemóveis, componentes para automóveis e outros produtos.
As operações nos aeroportos e estações ferroviárias de Xangai decorriam hoje com normalidade, de acordo com o jornal The Paper.
O serviço de autocarros de e para a cidade de 26 milhões de habitantes foi suspenso anteriormente. Os visitantes são obrigados a mostrar um teste negativo para a covid-19.
Para o resto do mundo, o maior impacto potencial virá da queda do consumo interno na China, devido às medidas de confinamento.
As previsões de crescimento económico já apontavam para um abrandamento, em relação à taxa de crescimento de 8,1% alcançada no ano passado, devido a uma campanha do governo para reduzir a dívida no setor imobiliário e outros desafios não relacionados à pandemia.
A meta oficial de crescimento económico para este ano é de "cerca de 5,5%", mas os analistas dizem que vai ser difícil atingi-la.
"A China é o maior consumidor de praticamente tudo", disse Rob Carnell, economista-chefe para a Ásia do grupo de serviços financeiros ING. "Se o consumo na China abrandar devido aos surtos de covid-19, isso afetará as cadeias de fornecimento e os países da região", explicou.
Louis Kuijs, economista-chefe para a região da Ásia - Pacífico do S&P Global Ratings, disse que as autoridades chinesas estão a tentar garantir que as mercadorias chegam aos clientes e as cadeias de fornecimento são salvaguardadas.
De acordo com o economista, em paralisações anteriores, as fábricas fizeram horas extra para atenderem aos pedidos.
Apesar dos receios de que os bloqueios na China podem atrasar a recuperação das cadeias de fornecimento globais, "o impacto não é tão grande quanto muitos observadores externos temem", disse Kuijs.
"Essas restrições tendem a ter um impacto maior nos gastos e do lado da procura interna na China", frisou.
O impacto em Xangai deve ser "relativamente reduzido", se a cidade contiver o seu surto, assim como fez Shenzhen, no sul da China, disse Carnell.
Shenzhen, centro de tecnologia e finanças, com 17,5 milhões de pessoas, impôs um confinamento semelhante em toda a cidade, em meados de março e reabriu uma semana depois.
Funcionários do setor financeiro podem trabalhar a partir de casa. No setor manufatureiro, as empresas puseram os operários a viver nas fábricas, num "sistema de circuito fechado", isolando-os do contacto com o exterior.
As fabricantes General Motors Co. e Volkswagen AG disseram que as suas fábricas em Xangai estão a operar normalmente.
Milhares de funcionários de empresas do setor financeiro dormem nos escritórios, para evitar contacto com pessoas de fora, informou o jornal Daily Economic News.
A Bolsa de Valores de Xangai está a funcionar normalmente, com uma equipa reduzida, num "escritório fechado".
A maioria dos restaurantes na cidade só tem permissão para servir os clientes através de entregas ao domicílio.
Nos centros comerciais, os visitantes são obrigados a usar máscara e a registar a entrada com os seus dados pessoais, através de uma aplicação.
A ameaça maior para a indústria e o comércio seria uma interrupção no porto de Xangai.
Xangai movimenta 140.000 contentores de carga por dia.
No ano passado, as interrupções ao longo de um mês no porto de Yantian, em Shenzhen, atrasou a descarga e saída de milhares de contentores, causando ondas de choque nas cadeias de fornecimento globais.
Em Xangai, os motoristas de camião que entregam mercadorias são obrigados a apresentar um teste negativo para o vírus, realizado nas últimas 48 horas, e um "recibo de entrega" eletrónico.
A volatilidade registada nos mercados, no início da semana, pode ter sido uma "reação exagerada", que não reflete a "verdadeira realidade da situação", mas os investidores já estavam inquietos com a China e a economia global, disse Michael Every, do banco holandês Rabobank.
"Temos vários problemas com os quais nos preocupar. Este é apenas um entre muitos", disse Every.