Criança refugiada integrada em equipa de hóquei de Oliveira do Hospital
Há uma semana, Antonily Svistun, jogador de hóquei no gelo de oito anos, treinava com normalidade em Lviv, mas o conflito na Ucrânia fez a família refugiar-se em Portugal e o atleta é acolhido hoje em Oliveira do Hospital.
Os treinos quase diários na cidade perto da fronteira com a Polónia faziam parte do quotidiano do pequeno guarda-redes, a quem a ofensiva russa virou a vida do avesso em poucos dias, mas a Secção de Patinagem do Futebol Clube de Oliveira do Hospital, que conta com uma centena de hoquistas, quer amenizar ao máximo o turbilhão de emoções com que Antonily se deparou na última semana e fazê-lo sentir-se acolhido e integrado num grupo de crianças com a mesma idade, que pratica hóquei em rodas.
"Que seja uma casa onde encontre um novo grupo de amigos, onde possa brincar, onde se possa distrair e fazer aquilo de que gosta, com seriedade e em paz", disse, à agência Lusa, o vice-presidente do clube, Jorge Gouveia, que se mostrou disponível para, em articulação com o município, receber mais refugiados e integrar com a ajuda do desporto.
Segundo o responsável pela secção de patinagem e hóquei, Antonily Svistun vai treinar três vezes por semana, com os benjamins/escolares, no Pavilhão Municipal de Oliveira do Hospital, embora fique alojado com a família na Figueira da Foz, onde moram os tios, que serão também tradutores, tal como um habitante local que se voluntariou para o efeito.
"De certeza que tem tantas imagens negativas na mente dele que será importante estar abstraído de tudo. Ser integrado num grupo com meninos da idade dele, que não conhece, mas que, de certeza, lhe vão tirar a mente da guerra, acho que é o nosso maior desafio e isso lhe vai dar força", acentuou Jorge Gouveia.
A notícia de que teriam um novo colega, originário de um país em conflito, foi recebida pelo grupo com entusiasmo, segundo o dirigente, que adiantou que o mais importante não é o fator desportivo, e informou que o clube tem um psicólogo que também o vai acompanhar, para "perceber como ele se vai sentir".
O hóquei em patins "é muito diferente" do hóquei no gelo, "mais rápido, os reflexos têm de ser mais apurados", e Jorge Gouveia acredita que esse pode ser "um trabalho de ajuda mútua interessante, porque, não sendo a mesma coisa, ambas as partes podem aprender e evoluir". No horizonte está uma visita à pista de gelo da Serra da Estrela, para que Antonily deslize num piso a que está habituado.
O clube foi contactado por um agente de representação de atletas, Carmo Rolim, que, através de colaboradores ucranianos, teve conhecimento do caso e procurou uma solução para Antonily Svistun.
"É importante ele dar continuidade àquilo de que gosta e pratica e vai ajudar psicologicamente o menino e na sua vida social", referiu o empresário da Europe Sports Group, à Lusa.
Jorge Gouveia espera que o guarda-redes sinta que "pode ter aqui uma segunda casa, enquanto não conseguir regressar à sua terra".
O vice-presidente do emblema de Oliveira do Hospital frisou existirem clubes mais perto do local onde o atleta vai residir, mas garante que "aqui está bem", num meio pequeno, mas onde há jogadores de outras zonas, as boleias estão asseguradas e vincou que vai treinar num concelho onde vai sentir "hospitalidade e vontade de ajudar", porque "sofreu muito nos incêndios de 2017, sabe o que é precisar de ajuda e ter de se reerguer".
O atleta é recebido hoje formalmente no clube, que lhe vai entregar o equipamento, para fazer o primeiro treino logo de seguida.