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Flashes

Recentemente, vivemos uma capicua - 22.2.22, expressão numérica, cujo reverso é ela própria -, há quem sobre isso elabore teorias e teoremas, e seria, também e sobretudo, o aniversário da minha mãe. Em cima desta saudade e desta nostalgia sem fim, a real falta que me impõe a sua ausência. Permanece esta permanente sensação de poesia, líquida metáfora que me goteja no espírito...a dar horas.

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Forçosa uma palavra sobre a histeria recorrente, que é a guerra. Por detrás desse perigoso jogo da geopolítica, a desumanidade grassa, em jeito de Besta à solta, pelas estepes ainda nevadas. Para o morticínio dos soldados e dos civis. O grau zero da insanidade, dividida pelas aldeias, revela o falhanço da diplomacia e a vergonha das relações internacionais. A ira, cada vez mais insensata, dos senhores do mundo.

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Agora, vem-me à memória o filme russo “Soldatik”, uma história verídica de um garoto de 6 anos que perdeu a família, durante a Segunda Guerra Mundial, e acabou adotado por um regimento do Exército Vermelho. A experiência devastadora, que é a exposição da infância, em tempo de guerra. Veja, quem possa, este filme sobre a vida de Sergey Alechkov!

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Em Cabo Verde, como no vasto mundo, a inflação e o desemprego comprometem grandemente o cabaz alimentar de milhares (alhures, milhões, senão biliões) de famílias em situação de pobreza e vulnerabilidade. Uns, dizem fome; outros, defendem insegurança alimentar (imaginem, até no Parlamento) -, sobre a realidade exposta ou velada, a arrebentar pelas costuras. O que seja, Povo, saia à rua, com o imperativo de algum Capitão Ambrósio pela frente.

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Patriotismo é dizê-lo. Denunciá-lo. Denunciar, escondida na música e na poesia, a Morabeza, mito nacional da bondade coletiva, mas que não passa de algo desaparecido em combate. Aos confrades, isto de Paul Auster, que dizia: “Um escritor só pode ser bom se tiver a honestidade de ir ao fundo, ao céu e ao inferno, doa a quem doer.”

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Proibir a Festa das Cinzas? Será que houve o cuidado de consultar um antropólogo cultural ou de auscultar pessoas conhecedoras desta tradição secular e que não implica grandes ajuntamentos, algo periclitante em tempo de crise sanitária? Como uma coisa não impacta a outra, a quem interessar possa, vou aí e já volto com um cabaz de peixe seco, xerém, trotxida, axin, couve, mandioca, batatas, coco, cuscuz e mel. Excesso para exorcizar a fome ou a insegurança alimentar, e a calibrar a meditação, a penitência e a abstinência, o marchar a passo de ganso, como a tropa, ora em guerra, no leste da Europa. De resto: desobediência civil, liberdades, direitos e garantias, que a nossa já trintona Constituição permite!