Kiev disse nas negociações que deplora maus tratos contra prisioneiros
As autoridades da Ucrânia anunciaram hoje, durante as negociações com a Rússia que decorrem em Istambul, que vão "castigar" quem maltratar prisioneiros de guerra e pediram à Rússia o mesmo procedimento.
"Enfrentamos uma escalada cada vez maior do conflito, com a violação das normas da guerra. Indivíduos de ambos os lados estão a pedir a destruição total do adversário, o que contradiz diretamente as convenções de Genebra e o tratamento de prisioneiros de guerra", disse o assessor presidencial ucraniano Mikhailo Pololyak à emissora do Parlamento da Ucrânia (Rada TV).
"O nosso Exército vai fazer o que puder para que estas violações não se verifiquem e que, se ocorrerem, os culpados vão ser castigados", declarou Podolyak, membro da delegação ucraniana às negociações de Istambul.
"A liderança militar ucraniana respeita a legislação internacional. Examinamos com cuidado todas as informações que nos chegam e, se sabemos que há maus tratos a prisioneiros de guerra, os responsáveis vão enfrentar as consequências. Os russos devem fazer o mesmo", acrescentou o general de brigada Oleksandr Kyrylenko, subchefe do Estado Maior que também faz parte da mesma delegação.
Podolyak insistiu que "ambos os lados devem respeitar as normas da guerra" e acusou a Rússia de ser a principal fonte das violações.
As declarações de Podolyak são conhecidas após a difusão de imagens vídeo difundidas nas redes sociais que mostram casos de maus tratos contra soldados russos, alegadamente pelas forças ucranianas.
Nas imagens, pelo menos três soldados russos parecem ter sido atingidos nas pernas após terem sido feito prisioneiros.
Podolyak não negou nem confirmou a veracidade das imagens, limitando-se a afirmar que o vídeo está a ser investigado.
Sobre as negociações, Podolyak sublinhou que "o ponto-chave são as garantias do Tratado Internacional para a Segurança da Ucrânia. É a única via para se seguir em frente".
A Rússia exige que a Ucrânia renuncie a todas as tentativas de adesão na NATO, mas Kiev exige um acordo internacional que garanta a segurança do país.
"Outro ponto é o cessar-fogo para se resolverem as exigências humanitárias que se avolumaram nas últimas semanas, sendo necessária uma solução imediata", disse ainda Podolyak durante uma pausa nas negociações.
Previsivelmente, as conversações vão ser interrompidas durante a tarde e devem ser retomadas na quarta-feira, disseram fontes da embaixada ucraniana em Ancara.
Paralelamente, a televisão russa Rossiya 24 difundiu imagens que confirmam a presença do magnata Roman Abramovich, com nacionalidade russa, portuguesa e israelita.
As imagens mostram Abramovich a chegar ao palácio onde decorrem as negociações, em Istambul, onde decorre o encontro que começou hoje e deve terminar na quarta-feira.
Entretanto, o Kremlin declarou hoje que o magnata Roman Abramovich, próximo do presidente Vladimir Putin, não é membro oficial da delegação russo nas negociações com a Ucrânia, sendo uma figura de "ligação para determinados contactos" entre Moscovo e Kiev.
"Roman Abramovich foi integrado para garantir determinados contactos entre a parte russa e a ucraniana", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, hoje durante uma conferência de imprensa.
Peskov acrescentou que Abramovich "não é membro oficial" da delegação russa liderada pelo ex-ministro da Cultura e atual assessor de Putin, Vladimir Medinski.
"Abramovich está hoje em Istambul, do nosso lado. Para estar presente, [qualquer negociador] precisa da aprovação das duas partes e, no caso de Abramovich, existe a aprovação de ambas as partes", disse ainda Peskov.
De acordo com notícias publicadas segunda-feira pelo Wall Street Journal, após uma reunião na capital ucraniana no início de março, o proprietário do clube de futebol inglês Chelsea, e pelo menos dois membros seniores da equipa de negociadores ucranianos, "desenvolveram sintomas" suspeitos de envenenamento.
Os sintomas - olhos vermelhos e lacrimejantes, rosto e mãos esfoladas - deixaram de se fazer sentir mais tarde "e as vidas [das pessoas em causa] não estão em perigo", escreveu o jornal norte-americano.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse no passado domingo que vários empresários russos, incluindo Abramovich, se tinham oferecido para ajudar a Ucrânia.
O Wall Street Journal revelou, na semana passada, que o Presidente ucraniano tinha pedido ao chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, para não aplicar sanções a Abramovich, argumentando que o magnata pode participar nas negociações de paz.
Abramovich não está na lista dos "oligarcas" visado pelas sanções aplicadas por Washington.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.151 civis, incluindo 103 crianças, e feriu 1.824, entre os quais 133 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.