Cruz Vermelha diz que não participará na retirada de civis de Mariupol
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse que não participará hoje na retirada de civis que o governo da Ucrânia disse ter negociado com a Rússia, nomeadamente por corredores humanitários que permitirá a saída de civis de Mariupol.
"Neste momento, o CICV não está envolvido numa possível retirada" de civis, disse o porta-voz da organização, Ewan Watson, em Genebra.
O porta-voz revelou que, há três semanas, a Cruz Vermelha fez "propostas detalhadas" às partes do conflito para serem criados corredores que permitiriam a saída segura de civis de Mariupol, cidade no sul do país cercada por tropas russas, mas que não tinham obtido qualquer progresso nesse sentido.
"Fizemos essa proposta para aliviar o sofrimento massivo em Mariupol, mas sem sucesso. Neste momento, os civis estão a tomar decisões de vida ou morte para sair sem um acordo de cessar-fogo que lhes permita escapar com segurança", explicou.
"O tempo está a esgotar-se para os civis em Mariupol e outras cidades na linha da frente que passaram semanas sem assistência humanitária. Os exércitos devem fornecer garantias de segurança à população e aos trabalhadores humanitários", acrescentou Watson.
De acordo com as observações realizadas pelo CICV, "as partes ainda não cumprem muitas de suas principais obrigações sob o direito internacional humanitário".
Segundo esses regulamentos, russos e ucranianos devem informar o CICV sobre prisioneiros de guerra capturados e civis detidos, e permitir que os representantes do CICV os visitem para verificar as suas condições.
Além disso, a organização também aguarda uma resposta às suas propostas para garantir um tratamento digno aos mortos, para que possam ser identificados e os seus restos mortais devolvidos às suas famílias.
"Esperamos que as partes cumpram as suas obrigações sob a Convenção de Genebra sem mais delongas", disse Watson.
O responsável recordou que as partes beligerantes também têm o dever de proteger os civis e limitar os seus ataques exclusivamente a alvos militares, o que não é o caso da guerra na Ucrânia, onde numerosas infraestruturas civis foram alvo de ataques terrestres e bombardeamentos aéreos, incluindo hospitais.
A Ucrânia anunciou hoje que será retomada a retirada de civis através de três corredores humanitários, em particular da cidade de Mariupol, após terem sido suspensos na segunda-feira por receio das "eventuais provocações" russas, segundo o governo ucraniano.
"Três corredores humanitários foram validados para hoje", disse a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, num vídeo publicado na rede social Telegram.
Segundo a vice-primeira-ministra, o primeiro corredor será organizado entre Mariupol - passando por Berdyansk, de onde civis já tinham sido retirados nos dias anteriores - até Zaporijia.
O segundo corredor vai da cidade de Melitopol, sob o controlo das forças russas (no sul do país), até Zaporijia, e o terceiro de Energodar, localidade também nas mãos de Moscovo, para Zaporijia.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.035 mortos, incluindo 90 crianças, e 1.650 feridos, dos quais 118 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,70 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.