General norte-americano David Petraeus diz que guerra entrou numa fase "imprevisível"
O general norte-americano David Petraeus, ex-diretor da CIA, serviços de informações dos Estados Unidos, disse que a guerra na Ucrânia entrou numa fase "altamente imprevisível", sendo que a tomada de Mariupol pode "mudar as coisas".
"Há muitos cenários possíveis, dependendo da possibilidade, de cada um dos lados, para se reabastecer, rearmar-se, substituir as perdas e incorporar novas estatégias", disse Petraeus numa entrevista que foi publicada hoje no jornal italiano Corriere della Sera.
Petraeus alerta que o conflito na Ucrânia pode prolongar-se durante semanas ou meses.
A "variedade de cenários vão desde o impasse prolongado, um pesadelo sangrento até [ao cenário] em que um lado vence fazendo recuar o inimigo", disse Petraeus, acrescentando que a situação pode prolongar-se "com lentos e esforçados avanços russos no sudeste, enquanto os ucranianos continuam com os contra ataques limitados em Kiev, Kharkiv, no leste, e Mykolaiv, no sudeste".
O general norte-americano, que entre outras missões comandou as forças internacionais nas intervenções militares no Iraque e no Afeganistão, diz que, apesar da forte motivação demonstrada até ao momento pelas forças ucranianas, não se pode excluir a reorganização das forças da Rússia.
Por outro lado, Petraeus considera que os recursos que Kiev recebe da NATO são "muito importantes", nomeadamente os sistemas de defesa aérea (S-300 e Buk) e aviões não tripulados (drones) Switchblade, de fabrico norte-americano.
"[O armamento] pode inclinar a balança a favor da Ucrânia dando-lhe vantagem na mesa das negociações", considera o ex-diretor da CIA (2011/2012).
"Mas, não podemos excluir a possibilidade de a Rússia em se recompor, recuperando o impulso no sudeste e possivelmente no nordeste", afirmou.
"Quando Mariupol 'cair', como parece que tragicamente está destinado a acontecer, apesar da defesa heroica ucraniana, a Rússia vai dispor de um excelente porto para abastecer as tropas que se encontram no sudeste", disse.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.035 mortos, incluindo 90 crianças, e 1.650 feridos, dos quais 118 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,70 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.