Erdogan reúne-se terça-feira com delegações negociais de Moscovo e Kiev
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou hoje que se reunirá tanto com a delegação ucraniana como com a russa antes de estas iniciarem na terça-feira uma nova ronda de negociações em Istambul.
"As delegações da Rússia e da Ucrânia reunir-se-ão amanhã (terça-feira) em Istambul para negociar um cessar-fogo e a paz. Antes de começarem as negociações, reunir-nos-emos brevemente com as delegações", disse Erdogan, numa aparição transmitida em direto pela cadeia televisiva NTV.
O chefe de Estado turco acrescentou que continua em contacto com os seus homólogos russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky, para promover a mediação, sublinhando que a Turquia vem fazendo esforços nesse sentido desde 2014.
Ancara nunca reconheceu a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia em 2014, insiste que a integridade territorial da Ucrânia deve ser respeitada e vende armamento a Kiev, mas, ao mesmo tempo, Erdogan mantém boas relações com Putin e comprou um sistema de defesa antimísseis a Moscovo.
Em meados de março, a diplomacia turca conseguiu reunir os ministros dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Dmytro Kuleba, em Antalya, embora o breve encontro não se tenha traduzido em progressos.
A ronda negocial de terça-feira é a continuação das conversações iniciada em finais de fevereiro na Bielorrússia e realizadas nos últimos dias por videoconferência.
Tem início marcado para as 07:30 TMG (08:30 em Lisboa) nos escritórios presidenciais anexos ao palácio de Dolmabahçe, em Istambul, e prosseguirá na quarta-feira, mas à porta-fechada, indicou a Presidência turca em comunicado.
A delegação russa chegou a meio da tarde de hoje num avião privado ao antigo aeroporto de Atatürk, ao passo que se espera que os negociadores ucranianos aterrem esta noite.
Na sua mensagem televisiva, Erdogan anunciou também que a Turquia está a acolher cerca de 200 crianças de orfanatos da Ucrânia, juntamente com os seus professores.
Ancara não participa nas sanções europeias contra a Rússia, e tanto cidadãos russos como ucranianos podem entrar no país sem visto, pelo que este se transformou em destino não só para milhares de refugiados ucranianos como também para muitos russos que fogem à repressão política de Moscovo.
A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de dez milhões de pessoas, mais de 3,8 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU -- a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 33.º dia, causou um número ainda por determinar de mortos civis e militares e, embora admitindo que "os números reais são consideravelmente mais elevados", a organização confirmou hoje pelo menos 1.151 mortos, incluindo 103 crianças, e 1.824 feridos entre a população civil.