Kremlin considera "alarmantes" declarações de Biden sobre Putin
A presidência russa (Kremlin) considerou hoje "alarmantes" as palavras do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que afirmou no sábado que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, não pode continuar no poder.
"Esta declaração é, naturalmente, alarmante", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, quando questionado por jornalistas se Moscovo considerava as palavras de Biden uma tentativa de interferir nos assuntos da Rússia.
As declarações de Joe Biden foram feitas no sábado, em Varsóvia, onde fez um discurso no castelo real de Varsóvia, num tom particularmente duro dirigido ao Presidente russo.
"Por amor de Deus, esse homem não pode permanecer no poder", afirmou, sublinhando que não é o povo russo quem considera como inimigo.
Peskov acrescentou hoje que o Kremlin continuará a seguir "cuidadosamente" todas as declarações feitas nos Estados Unidos sobre o assunto.
"Tomamos nota", assegurou.
Alguns dos responsáveis da administração norte-americana tentaram, no domingo, suavizar as palavras de Biden, garantindo que Washington não pretende uma mudança de poder na Rússia.
O governo dos Estados Unidos "não tem uma estratégia" para tirar Putin do poder, afirmou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, durante uma visita a Israel, assegurando que Biden se referia ao facto de o Presidente russo não dever "ter poder" para fazer uma ofensiva na Ucrânia.
No fim de semana, o Kremlin também comentou aquilo que classificou como "insultos de Biden a Putin", quando o Presidente norte-americano chamou o seu homólogo russo de "carniceiro", poucos dias depois de ter designado Putin por duas vezes, como "criminoso de guerra".
"Um líder deve saber manter a calma", observou hoje Peskov, avisando que "os insultos pessoais reduzem a janela de oportunidade para melhorar" as relações russo-americanas.
O porta-voz do Kremlin adiantou também que a Rússia e a Ucrânia não fizeram, até agora, "progressos significativos" nas negociações para pôr fim ao conflito na Ucrânia.
"Neste momento, não conseguimos ver nenhum progresso ou avanço significativo", disse Peskov à imprensa, no dia em que as delegações russa e ucraniana deverão chegar a Istambul para nova sessão de discussões.
De acordo com Peskov, "é muito improvável" que as negociações, que decorrem por videoconferência nas últimas duas semanas, sejam retomadas presencialmente já esta noite.
"As delegações estão a chegar hoje" à Turquia, lembrou, adiantando que o início da nova ronda de negociações está previsto para terça-feira.
A Rússia prefere, por enquanto, abster-se de tornar públicos os detalhes das discussões, tendo o porta-voz do Kremlin explicado que isso "pode prejudicar as negociações".
"No entanto, o facto de se ter decidido continuar as negociações cara a cara é muito importante", sublinhou.
Uma ronda de negociações presenciais entre a Rússia e a Ucrânia já tinha acontecido no dia 10 de março, na Turquia, tendo juntado os ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países em conflito, mas sem resultar em qualquer avanço concreto.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.119 civis, incluindo 139 crianças, e feriu 1.790, entre os quais 200 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,8 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.