Putin compara sanções contra cultura russa às fogueiras nazis
O Presidente russo, Vladimir Putin, comparou hoje a decisão de vários países ocidentais de suspenderem a atuação de artistas e desprogramarem eventos culturais russos com as fogueiras realizadas pelos nazis, nomeadamente para queimar livros.
"Da última vez foram os nazis na Alemanha, há quase 90 anos, que fizeram uma campanha destas de destruição de uma cultura indesejada. Todos nos lembramos bem das imagens de livros queimados em praças públicas", disse, durante um encontro com jovens vencedores do Prémio presidencial de Literatura e Arte.
"Hoje, o Ocidente está a tentar suprimir um país milenar inteiro, o nosso povo", sublinhou Putin, referindo o fenómeno como a 'cultura da repressão'.
"Ou seja, o ostracismo público, os boicotes e até o silêncio total, assim como o esquecimento de acontecimentos relevantes, de livros, de nomes das figuras públicas históricas ou modernas, dos escritores ou simplesmente de pessoas que não se encaixam nos padrões modernos", disse o Presidente russo.
"Trata-se de uma discriminação progressiva de tudo o que está relacionado com a Rússia. Com o conluio total e, às vezes, o incentivo das elites dominantes", reforçou.
"Cartazes de espetáculos [de compositores como] Tchaikovsky, Shostakovich e Rachmaninov foram retirados e proibidas [as apresentações e vendas de] escritores e livros russos", criticou o Presidente russo.
Putin e outras autoridades russas têm feito comparações entre a Alemanha nazi e o comportamento atual dos países ocidentais, acusando-os de realizar uma campanha russofóbica, através da adoção de sanções após a ofensiva russa na Ucrânia, que Moscovo justificou com tentativas de ucranianos "neonazis" exterminarem os russófonos do país.
A ofensiva de dezenas de milhares de soldados russos no país vizinho pró-Ocidente desencadeou uma onda de solidariedade internacional à Ucrânia, que vai muito além de sanções económicas e políticas decididas pelos governos da maior parte dos países.
As principais federações desportivas e locais de eventos culturais de referência excluíram os atletas e os artistas russos das agendas e as desprogramações multiplicaram-se nas salas culturais do Ocidente.
Um desses casos aconteceu com a Filarmónica de Paris, que modificou a sua programação da temporada 2022-2023, inicialmente preenchida com convidados russos, como o maestro Valery Gergiev ou a orquestra Bolshoi, conotadas como tendo ligações ao poder de Moscovo.
Outro exemplo foi o da soprano Anna Netrebko, criticada pela sua alegada complacência em relação ao Presidente Putin, que teve de cancelar, a 03 de março, a sua apresentação na Metropolitan Opera de Nova Iorque, onde deveria atuar na primavera e durante a próxima temporada.
Por seu lado, o maestro Pavel Sorokin foi demitido da Royal Opera House de Londres, enquanto o brasileiro David Motta Soares e o italiano Jacopo Tissi, ambos bailarinos da Bolshoi, se demitiram da companhia de bailado mais emblemática da Rússia.
Também a organização do Festival de cinema de Cannes anunciou não querer receber delegações oficiais russas este ano.
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, mais de 1.000 mortos, incluindo 90 crianças, e mais de 1.500 feridos, dos quais 118 são menores.
O conflito também provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,7 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.