13 milhões de pessoas retidas no país e sem meios para escapar das zonas de conflito
Cerca de 13 milhões de pessoas estão retidas em áreas afetadas pelo conflito na Ucrânia e sem meios para fugir devido, entre outras coisas, à destruição de estradas e pontes, avançou hoje a ONU.
Estas pessoas "não podem sair de onde estão devido à destruição de estradas ou à falta de informações sobre onde encontrar segurança e alojamento", explicou a representante do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) na Ucrânia, Karolina Lindholm, numa videoconferência realizada a partir de Lviv (oeste).
Esta população, se e quando conseguir fugir dos locais onde se encontra, vai aumentar o número de deslocados internos e de refugiados, segundo indicou a representante.
A incapacidade de milhões de pessoas de fugir do conflito é uma das questões que levam o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos a acreditar que o direito internacional humanitário foi violado na Ucrânia e que foram cometidos crimes de guerra.
Os milhões de pessoas retidas em áreas afetadas, o elevado número de vítimas civis e a extensão dos danos a infraestruturas civis "sugere fortemente a violação do direito internacional humanitário em ataques indiscriminados", defendeu hoje, por sua vez, a líder da missão da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos na Ucrânia, Matilda Bogner.
A responsável lembrou também que hoje se soube que cerca de 330 pessoas que se refugiaram no teatro da cidade ucraniana de Mariupol (leste) terão morrido na sequência de um bombardeamento russo, ocorrido em 16 de março, e que as tropas russas, que já controlam a parte leste desta cidade portuária estratégica, devastaram a zona, deixando quase 100.000 habitantes cercados, sem água, eletricidade ou bens essenciais, como comida ou medicamentos.
O Ministério da Defesa russo atribuiu a destruição do teatro à necessidade de bombardear posições do batalhão ultranacionalista ucraniano Azov, cujos elementos, segundo Moscovo, se escondiam no edifício.
A invasão russa provocou o deslocamento forçado de 6,5 milhões de pessoas dentro do país e a fuga de outras 3,7 milhões para outros países em menos de 30 dias, segundo dados do ACNUR.
Na videoconferência hoje realizada, Karolina Lindholm sublinhou que a única forma de lidar com a vaga de deslocados internos é trabalhar com as autoridades locais para identificar edifícios ou outras instalações que possam ser convertidos em centros de acolhimento coletivo.
"Milhões de pessoas vão precisar, a médio e longo prazo, de apoio e de um lugar onde viver", antecipou a responsável da agência da ONU.
"No último mês, tudo mudou na Ucrânia" e foram "revertidos muitos dos desenvolvimentos conseguidos, tendo a ajuda que era dada às pessoas retrocedido ao ponto onde estava há oito anos", explicou, acrescentando que "hoje, a realidade é a de uma enorme crise humanitária que cresce a cada segundo que passa".
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, mais de 1.000 mortos, incluindo 90 crianças, e mais de 1.500 feridos, dos quais 118 são menores.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.