"Audiência histórica" com o Papa para falar dos abusos de crianças aborígenes
A "audiência histórica" entre o papa e os aborígenes canadianos deveria "reconhecer a responsabilidade" da igreja no escândalo das escolas residenciais, defenderam hoje membros da delegação composta por aborígenes e bispos.
A delegação, composta por 32 representantes aborígenes e bispos canadianos, vai encontrar-se com o Papa Francisco na próxima semana para discutir as décadas de abuso nas escolas residenciais geridas pelas igrejas católica e anglicana.
Além dos milhares de crianças que ao longo de décadas foram retiradas às suas famílias e nunca regressaram a casa, várias investigações descobriram, no ano passado, mais de 1.300 sepulturas de crianças nos locais de antigos internatos.
O escândalo abalou o Canadá e muitos sobreviventes querem agora um pedido de desculpas do Papa.
"A igreja deve ser responsabilizada e reconhecer a sua responsabilidade pelos grandes danos causados pelo seu envolvimento direto nesta instituição de assimilação e genocídio", disse Gerald Antoine, chefe regional dos Territórios do Noroeste, citado pela agência de notícias France Presse (AFP).
Gerald Antoine faz parte da delegação que está a preparar a "audiência histórica" com o líder católico para discutir, entre outras coisas, os "impactos do colonialismo".
"Espero que o Papa esteja na mesma página que nós, neste processo de cura", acrescentou Rosanne Casimir, chefe do First Nation, a comunidade Kamloops que foi a primeira a descobrir sepulturas na primavera do ano passado.
Cada um dos três grupos de delegados - Métis, Inuit e First Nations - irá encontrar-se com o pontífice de 85 anos, em reuniões individuais que estão agendadas para a próxima semana, entre segunda e quinta-feira.
No final, a 1 de abril, prevê-se a realização de uma reunião com todos os membros da delegação, sendo que o Papa também deverá visitar o Canadá nos próximos meses, acrescenta a AFP.
Em setembro, a Igreja Católica no Canadá fez um pedido formal de desculpas aos povos aborígenes.
Entre o final do século XIX e a década de 1980, cerca de 150 mil crianças aborígenes foram recrutadas à força em mais de 130 escolas residenciais em todo o país, onde foram isoladas das suas famílias, língua e cultura.
Milhares nunca regressaram a casa: As autoridades estimam que o número se situe entre quatro mil e seis mil, segundo números avançados pela AFP.
Em 2015, uma comissão nacional de inquérito descreveu o sistema como "genocídio cultural".
Segundo a AFP, as investigações no terreno continuam.