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Unesco apela a Governo Talibã que permita o regresso das raparigas à escola

Foto DR
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A Unesco apelou hoje ao governo do Afeganistão que recue na decisão de impedir o acesso das raparigas às escolas secundárias, referindo-se à decisão de suspender as aulas a partir do 6.º ano.

"A promessa de um regresso à escola para milhões de raparigas no Afeganistão foi quebrada. Este é um grande contratempo. O acesso à educação é um direito fundamental", afirmou a secretária-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Audrey Azoulay, citada pela agência de notícias EFE.

Depois de assumirem o controlo do país, em agosto de ano passado, o governo Talibã anunciou que iria impedir as adolescentes de regressar às escolas para "adaptar" a sua educação à lei da Sharia, permitindo apenas o acesso até ao 6.º ano de escolaridade (o equivalente ao 1.º e 2.º ciclos de escolaridade em Portugal).

Na semana passada, disseram que afinal todas as raparigas poderiam regressar à sala de aula, mas o Governo afegão recuou hoje, no dia de reabertura das aulas, depois das férias de inverno.

"As escolas para as raparigas adolescentes entre o 7.º e 12.º anos (dos 12 aos 18 anos de idade) vão continuar fechadas", anunciou o porta-voz adjunto do Governo dos talibãs, citado pela EFE.

A comunidade internacional fez do direito à educação para todos uma condição indispensável para continuar as negociações para ajuda e reconhecimento do regime fundamentalista islâmico.

"As raparigas devem ser autorizadas a regressar à escola sem mais demoras", reiterou Azoulay, cuja voz se junta a outros apelos que foram ouvidos hoje, como foi o caso de representantes da Unicef e da ONU, que já disseram que irão abordar o assunto com as autoridades.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou a decisão do Governo, que provocará "danos profundos" ao país, tendo instado "as autoridades talibãs a abrirem as escolas para todos os alunos, sem mais demoras".

"Partilho a profunda frustração e deceção das meninas e estudantes que, após seis meses de espera, foram impedidas de voltar à escola hoje", disse por seu turno a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

No final de agosto, Bachelet avisou os talibãs que o tratamento das mulheres constitui uma "linha vermelha" na aceitação das autoridades afegãs, tendo pedido hoje "que seja respeitado o direito à educação de todas as meninas e abertas as escolas a todos os alunos sem discriminação ou atrasos adicionais".

Também a UNICEF se manifestou, exigindo que as raparigas regressem, "sem mais atrasos".

A diretora executiva da agência da ONU para a infância, Catherine Russell, sublinhou que milhões de raparigas acordaram hoje com esperança de voltarem às aulas, mas que não tardou muito até verem as esperanças "destruídas".

Em janeiro, a organização humanitária Human Rights Watch (HRW) concluía que a subida ao poder dos talibãs estava a ter um impacto especialmente negativo na vida e nos direitos das mulheres afegãs.

Mesmo "quando as mulheres são autorizadas a voltar ao trabalho, enfrentam exigentes regras de segregação de género e, desde setembro, estão sujeitas ao novo Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção de Vícios, que substituiu e eliminou o Ministério dos Assuntos da Mulher.

O novo ministério foi encarregue de "fazer cumprir as regras de comportamento dos cidadãos, incluindo a forma como as mulheres se vestem e a proibição de saírem de casa desacompanhadas", denunciou a HRW.