A Guerra Mundo

Cresce receio de uso de armas químicas e Moscovo ameaça confronto com NATO

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Quatro semanas após a invasão russa, a NATO anunciou que quer enviar à Ucrânia equipamento contra armas químicas e Moscovo disse que o envio de forças de paz provocará um confronto com a Aliança Atlântica.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse hoje esperar que os aliados concordem em fornecer apoio adicional à Ucrânia face à invasão russa, incluindo equipamento contra armas químicas e biológicas, cuja utilização, advertiu, "alteraria completamente a natureza do conflito".

A declaração foi feita no dia em que fontes ucranianas denunciaram que o exército russo utilizou fósforo branco - uma arma química ilegal, segundo a Convenção de Armas Químicas de 1997 - perto de Irpin e Gostomel, na região metropolitana de Kiev.

Horas antes, o Presidente dos EUA, Joe Biden, voltou a dizer, antes de descolar com destino a Bruxelas para participar em reuniões com aliados, que existe uma "ameaça real" de a Rússia usar armas químicas na Ucrânia.

Moscovo, pelo seu lado, continua a devolver estas acusações para Kiev e hoje o parlamento russo anunciou que vai investigar alegações de que os Estados Unidos financiaram laboratórios de armas químicas na Ucrânia, uma acusação que Washington diz ser uma tática de Moscovo para justificar a sua utilização na guerra.

Ao mesmo tempo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, alertou que o envio de forças de paz da NATO para a Ucrânia provocaria confrontos militares entre a Rússia e a Aliança Atlântica.

Um cenário desses "implicará confrontos diretos entre as forças russas e as da NATO, algo que todos gostaríamos de evitar, pelo que avisamos desde já que isso [o envio de forças de paz] não pode acontecer", disse Lavrov durante uma palestra numa universidade em Moscovo.

Perante estas ameaças, o secretário-geral da NATO afirmou esperar que os líderes da Aliança aprovem, na cimeira que decorre na quinta-feira, "grandes aumentos" de forças no leste da Europa, com o envio de quatro grupos de combate adicionais.

"Eu espero que os líderes concordem em fortalecer a postura da NATO em todos os domínios, com grandes aumentos das nossas forças na parte oriental da Aliança, na terra, no ar e no mar", disse Jens Stoltenberg.

No plano diplomático, Moscovo acusou os Estados Unidos de estarem a dificultar as "já difíceis" negociações russo-ucranianas para terminar a guerra, considerando que o objetivo de Washington é "dominar a ordem mundial", inclusive através de sanções.

"As negociações são difíceis, o lado ucraniano está constantemente a mudar de posição. É difícil não ficar com a impressão de que os norte-americanos os estão a levar pela mão", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.

Por outro lado, a Rússia vai passar a exigir o pagamento em rublos das vendas de gás a "países hostis", como os da União Europeia (UE), deixando de aceitar euros ou dólares, anunciou hoje o Presidente russo.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, continua o seu périplo virtual pelos parlamentos mundiais e hoje, perante os deputados franceses, disse esperar que França ajude a Ucrânia a acabar com a "guerra contra a liberdade, igualdade e fraternidade" causada pela invasão russa e a aderir à União Europeia.

"Esperamos de França, da vossa liderança (...), que ajude a restaurar a integridade territorial da Ucrânia", afirmou Zelensky, que se dirigia por videoconferência aos deputados e senadores excecionalmente reunidos para a ocasião.

Zelensky defendeu ainda uma reforma profunda das Nações Unidas por não ter mecanismos que pudessem ter impedido a Rússia de invadir a Ucrânia.

Numa intervenção por videoconferência no parlamento japonês, Zelensky considerou que "nem a ONU nem o Conselho de Segurança têm trabalhado" com eficácia para parar a guerra e disse ser necessário fazer reformas nos órgãos da Organização das Nações Unidas.

Entretanto, a Bielorrússia, aliada de Moscovo, anunciou a expulsão da maioria dos diplomatas ucranianos no seu território, acusando Kiev de ações "pouco amigáveis" e de "interferência" nos seus assuntos.

Isto no momento em que a Ucrânia disse já ter recolhido quase cinco mil provas de crimes de guerra cometidos pela Rússia e apresentadas por cidadãos, cujo testemunho é "inestimável".

Desde a criação da plataforma agregadora warcrimes.gov.ua para recolha de informações sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia, "os cidadãos apresentaram 4.935 elementos de prova de crimes de guerra e crimes contra a humanidade", referiu a PGR através da sua conta na rede Telegram.

A Ucrânia também pediu ao Ocidente "armas ofensivas" ao abrigo de um programa especial, numa altura em que os líderes ocidentais vão discutir a guerra provocada pela Rússia em cimeiras da NATO, da União Europeia e do G7.

Apesar das esperanças ucranianas em intensificar os ataques contra as forças russas, um relatório do Ministério da Defesa britânico refere que as tropas do exército russo na Ucrânia estão provavelmente a "reorganizar-se" no norte do país antes de continuarem a ofensiva em "grande escala".

"O campo de batalha no norte da Ucrânia permanece, em grande parte, paralisado, com as forças russas provavelmente a passar por um período de reorganização antes de continuarem as suas operações ofensivas em larga escala", refere o relatório do Ministério da Defesa britânico publicado hoje na rede social Twitter.

A Rússia e a Ucrânia realizaram duas trocas de prisioneiros desde a entrada das forças russas no território ucraniano, declarou hoje a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, mas sem precisar datas ou o número de prisioneiros envolvidos.

"O Ministério de Defesa da Rússia organiza diariamente corredores humanitários e a retirada de civis de localidades (ucranianas). Além disso, realizaram-se duas trocas de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia", disse Maria Zakarova num comunicado publicado na página de Internet do ministério.

Com o aumento da ameaça militar russa no leste, a Suécia e a Finlândia precisaram que a sua política de segurança e defesa não significa serem "países neutrais", estando a estudar a possibilidade de integrarem ou reforçarem a colaboração com a NATO.

A invasão russa da Ucrânia já provocou pelo menos 977 mortos, dos quais 81 são crianças, e 1.594 feridos entre a população civil, incluindo 108 menores, indicou hoje a ONU.

No seu relatório diário sobre vítimas civis confirmadas desde o início da agressão militar russa na Ucrânia, a 24 de fevereiro, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabilizou, até às 24:00 de terça-feira (hora local) um total de 2.571 vítimas civis.

Mais de 3,6 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde a invasão russa, anunciou hoje a ONU, acrescentando que, entre os que saíram do país e os deslocados internos, o número ascende a 10 milhões de pessoas.

Segundo a contabilização das Nações Unidas, o número de pessoas que fugiu das suas casas para outras regiões do país atinge quase 6,5 milhões.