A Guerra Mundo

Pior ainda está para vir, com Putin preso numa guerra longa

Foto: EPA/ADAM WARZAWA POLAND OUT
Foto: EPA/ADAM WARZAWA POLAND OUT

Após um mês de guerra na Ucrânia, analistas temem que o pior ainda esteja para vir e avisam para os riscos de o Kremlin escalar tensões, ao perceber que ficou encurralado entre um conflito militar prolongado e uma crise financeira devastadora.

"Como nenhum dos lados mostra qualquer sinal de recuo, a guerra pode tornar-se ainda mais catastrófica", escreve Comfort Ero, presidente do International Crisis Group, num artigo hoje divulgado sobre as primeiras quatro semanas de conflito na Ucrânia.

Ero defende que a "principal prioridade" dos líderes ocidentais deve ser "manter linhas abertas de comunicação com Moscovo", procurando estancar a escalada de tensão e de confronto militar e tentando "promover uma solução negociada".

Vários analistas parecem concordar em que este conflito militar está longe de ter arrefecido e ameaça tornar-se ainda mais sangrento e doloroso, no dia em que o Presidente dos EUA, Joe Biden, repetiu que a possibilidade de a Rússia recorrer a armas químicas é uma "ameaça real" e quando as forças ucranianas denunciaram o uso de fósforo branco (uma arma proibida pelos tratados internacionais) nos arredores de Kiev.

Ema Ashford, investigadora sénior do Scowcroft Center for Strategy and Security, reconhece que, após quatro semanas de batalha, os cenários futuros que se abrem "são aterradores", referindo-se à hipótese de estarmos à beira de "um atoleiro militar que levará à morte e sofrimento prolongados".

Ashford admite como provável a possibilidade de "um ataque acidental em território polaco ou romeno, que levará a NATO para dentro da guerra" ou ainda uma escalada de trocas de acusações entre Washington e Moscovo "que culmine em ataques nucleares".

Para Rajan Menon, investigador sénior do Saltzman Institute of War and Peace Studies, da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, um dos riscos maiores para a evolução da situação na Ucrânia é o de o Presidente russo, Vladimir Putin, sentir que está a perder o controlo da situação, vendo-se obrigado a dar um salto em frente, para um "novo e temível" patamar de confronto com o Ocidente.

Menon admite mesmo que Putin não tenha ainda uma perceção realista sobre o que se passa nos campos de batalha, muito menos sobre as pesadas perdas de soldados e de equipamento que as forças russas estão a sofrer.

"Num país governado por um todo-poderoso líder, como Putin, os subordinados provavelmente não lhe querem contar as más notícias", escreveu este analista num artigo hoje publicado no jornal britânico The Guardian.

O que Menon e Ashford temem é que Putin fique sem espaço para "salvar a face" perante um cenário militar pouco favorável para a Rússia, obrigando o Presidente russo a recorrer a fortes bombardeamentos sobre as principais cidades ucranianas, até as deixar em cinzas.

Estes analistas temem ainda que Putin arranje pretextos para envolver diretamente a NATO nesta guerra na Ucrânia, através de um ataque, acidental ou deliberado, a um país aliado, obrigando a ativar o artigo 5º do Tratado Atlântico, que levará todos os países, incluindo os EUA, a ir em seu socorro.

Daí ser tão importante encontrar pontos de equilíbrio na forma de o Ocidente pressionar o Kremlin, bem como "sensibilidade racional" nas soluções que a NATO desenhar para o futuro próximo na Europa de Leste, como escreveu esta semana John Deni, professor de Estudos de Segurança no Instituto de Estudos Estratégicos do U.S. Army War College.

Refletindo sobre a reunião de emergência da NATO esta semana em Bruxelas, em que estará presente Joe Biden, Deni defende que a Aliança Atlântica deve "recuperar sem hesitações" a sua estratégia de defesa territorial, concebida durante a era da Guerra Fria.

Deni recorda que, nos últimos anos, a NATO decidiu colocar, de forma permanente, uma força de cerca de 1.200 soldados nos países bálticos e na Polónia, numa base permanente, ao abrigo da sua nova estratégia de defesa.

"Hoje, porém, essas medidas podem não ser suficientes para nos defendermos contra a imprevisível agressão militar de Putin", escreveu o estratego militar, avisando os líderes ocidentais da necessidade urgente de deixar um sinal ao Presidente russo de que há uma forte barreira de segurança junto às fronteiras da Rússia, para que não alimente esperanças de novas invasões sem consequências.