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Junta militar do Myanmar "rejeita categoricamente" posição dos EUA sobre "genocídio" dos rohingyas

Os refugiados do Myanmar.   Foto EPA/AMANDA JUFRIAN/ACT LHOKSEUMAWE/HO
Os refugiados do Myanmar.   Foto EPA/AMANDA JUFRIAN/ACT LHOKSEUMAWE/HO

A junta militar que governa o Myanmar (antiga Birmânia) rejeitou hoje "categoricamente" a posição dos Estados Unidos, conhecida na segunda-feira, em que os norte-americanos defenderam que os rohingyas foram vítimas de "genocídio" pelos soldados em 2016 e 2017.

"As histórias mencionadas no discurso do secretário de Estado [Antony Blinken] estão longe da realidade", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da junta, citado em comunicado.

"A Birmânia nunca se envolveu em ações genocidas e não tem intenção genocida de destruir, no todo ou em parte, qualquer grupo nacional, racial ou religioso ou qualquer outro grupo", acrescentou.

Na segunda-feira, os Estados Unidos declararam oficialmente, pela primeira vez, que a minoria muçulmana rohingya foi vítima de "um genocídio" perpetrado pelo Exército birmanês em 2016 e 2017.

"Determinei que membros das forças armadas birmanesas cometeram genocídio e crimes contra a humanidade contra os rohingyas em 2016 e 2017", disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, em Washington.

Blinken acrescentou que os factos provam "uma clara intenção por detrás dessas atrocidades - uma intenção de destruir os rohingyas, no todo ou em parte".

"As intenções do Exército foram além da limpeza étnica, indo até à destruição real" dessa minoria, de acordo com o chefe da diplomacia norte-americana, que lembrou que esta é a oitava vez desde o Holocausto que os Estados Unidos reconhecem oficialmente a existência de um genocídio.

Antony Blinken disse que tomou esta decisão "com base numa análise dos factos e da lei realizada pelo Departamento de Estado", alicerçada numa "série de fontes independentes e imparciais, além das nossas próprias investigações".

Blinken citou um relatório da diplomacia norte-americana, datado de 2018, focado em dois períodos: o primeiro de outubro de 2016, o segundo de agosto de 2017.

"Em ambos os casos, o Exército birmanês usou as mesmas técnicas para atingir os rohingyas: aldeias arrasadas, assassínios, estupros, tortura", explicou o secretário de Estado, que indicou que os ataques de 2016 "forçaram cerca de 100.000" membros dessa minoria muçulmana a fugir para Bangladesh, e que os ataques de 2017 "mataram mais de 9.000 rohingyas e forçaram mais de 740.000 deles a procurar refúgio".

A repressão militar de 2017 em Myanmar está a ser objeto de um processo de genocídio perante o Tribunal Internacional de Justiça, um organismo das Nações Unidas com sede em Haia.