Impacto da guerra no agroalimentar é negativo e vinhos verdes são mais afectados
O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) apontou que o impacto da guerra na Ucrânia "é negativo" para o agroalimentar, sobretudo para setores como vinhos e frutas, verificando-se já algumas dificuldades nos seguros de crédito.
"Embora ainda seja cedo para avaliar o impacto desta situação [...], Portugal exporta produtos agroalimentares para aquele país [Rússia], particularmente ao nível dos vinhos e especialmente os vinhos verdes, assim como frutas", indicou, em resposta à Lusa, o secretário-geral da CAP, Luís Mira.
No entanto, conforme apontou, verificam-se já algumas "dificuldades especificas", por exemplo, ao nível dos seguros de crédito, uma vez que, logo no início do conflito e antes de serem aplicadas sanções, as empresas começaram a pagar mais para enviar os seus produtos, em segurança, para estes mercados.
O impacto no setor agroalimentar é assim "negativo" e pode mesmo ser "dramático" para empresas com uma quota de exportação significativa para estes países.
Perante esta situação, "as empresas terão de procurar alternativas" a estes mercados, defendeu Luís Mira.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados pela CAP, as exportações agroalimentares portuguesas para o mercado russo somaram 52.437.822 euros em 2021, abaixo dos 58.111.812 euros de 2020, ainda assim acima do valor pré-pandémico (50.129.951 euros).
Para este mercado vão, sobretudo, produtos de origem animal, como tripas, bexigas e estômagos, frescos, refrigerados, congelados, salgados, secos ou fumados, vinhos, produtos hortícolas, ovos de aves, café e azeite.
Já para a Ucrânia são exportados produtos como vinho, café, preparados para alimentação de crianças e produtos à base de cereais.
As exportações agroalimentares para a Ucrânia ascenderam a 7.883.870 euros em 2021, acima do valor de 2020 (6.639.084 euros) e de 2019 (5.130.212 euros).
Em resposta à Lusa, a Portugal Fresh destacou que as exportações para a Rússia de frutas, legumes e flores "são residuais", tendo contabilizado 10,2 milhões de euros em 2021, ou seja, 0,6% do total das exportações deste setor.
No ano 2020, as exportações deste setor para a Rússia, que abrangem, sobretudo, preparados de frutas e legumes, fixaram-se em 17,3 milhões de euros e 16 milhões de euros em 2019.
"Os efeitos que, neste momento, se podem antecipar prendem-se mais com o impacto das exportações oriundas de países que tinham como destino inicial a Rússia e que, agora, são enviados a outros mercados. Este movimento poderá afetar negativamente o preço, pelo aumento da oferta", considerou o presidente da Portugal Fresh, Gonçalo Santos Andrade.
No total, as exportações de Portugal para a Rússia situaram-se nos 270 milhões de euros em 2021, destacando-se os produtos agrícolas, madeira, cortiça, máquinas e aparelhos.
Em 14 de março, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, assegurou que não existem dificuldades no abastecimento de bens essenciais importados e que estão assegurados aprovisionamentos até junho, mas afirmou ser "inevitável" um aumento de preços.