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Para onde iremos a seguir?

Durante muitos anos imaginei como teriam vivido os meus bisavós em Madrid durante o Cerco da cidade na Guerra Civil de Espanha. A minha avó paterna, que era madrilena, descrevera-me como os pais dela tinham passado fome, vivido aterrorizados, com o cair das bombas, passando frio, vivendo um dia, ou melhor uma hora, de cada vez e não sabendo o que seriam os próximos minutos… completamente impotentes como todos os civis apanhados pela guerra.

As imagens da vida das pessoas sitiadas nas cidades ucranianas cercadas pelas tropas invasoras russas são ainda pior do que eu tinha imaginado pelos relatos do vivido pelos meus bisavós, talvez porque me parecesse impossível seres humanos infligirem aos seus semelhantes tamanho sofrimento.

Aquelas pessoas continuam tentando não desesperar, manter a calma, quando tudo lhes indica que a probabilidade de sobreviverem é pequena. Sabem que têm que se agarrar a estarem vivos porque pode acontecer um milagre e a guerra acabe em breve.

Como dizia, entre lágrimas, uma ucraniana num abrigo: “eu só queria voltar à minha casa, ao meu emprego… à minha vida”. Penso que todos eles e nós temos este desejo comum que voltem rápido às suas casas, aos seus empregos, às suas vidas.

Nós, Portugueses, como todos os Europeus, vamos sentir o nosso nível de vida diminuir devido à guerra, mas os problemas que vamos passar não são nada comparados com os problemas que os ucranianos estão a ter pelo facto de quererem aquilo que todos nós gostamos de ter: a liberdade para sermos felizes. Só quem não sabe o valor da liberdade pode reprimir o direito a sermos livres e, como tal, sermos felizes.

A invasão da Ucrânia tornou-nos menos felizes e faz-nos questionar a Europa da Paz que pensávamos já ser uma realidade. Essa Europa da Paz permitiu que os orçamentos para a defesa fossem muito reduzidos, mas agora para aumentá-los temos que sacrificar outras despesas que são importantes… não há possibilidade de manter o nível de vida que tínhamos. Nem todos vamos ser afetados da mesma maneira e, como sempre, os que irão ser mais afetados são os mais vulneráveis, por isso temos que ser capazes de ser solidários para com eles, disponibilizando-nos a financiar medidas que os apoiem mesmo tendo nós menos. Não vai ser fácil, mas por certo vai ser mais fácil do que vivermos o drama que viveu uma menina na Ucrânia (talvez com sete anos) que, depois de ter a casa destruída, se refugiou com a família na casa de um tio e que ao ser entrevistada, a chorar muito, disse: “se nos atacarem aqui esta noite, para onde vamos a seguir?”.

Esta é a pergunta que coloquei como título deste artigo e que vos faço: para onde iremos a seguir, se não estivermos à altura do momento histórico e dramático que atravessamos?.