Madagáscar recusa tomar partido sobre invasão russa
O primeiro-ministro de Madagáscar, Christian Ntsay, recusou-se a condenar a invasão russa da Ucrânia e não quis tomar posição sobre o conflito na Europa, seguindo a tendência da maioria dos países africanos, que se mantiveram em silêncio.
"Nós em Madagáscar temos uma política de estabelecer relações com todos os países, tanto com o Ocidente como com a Rússia", disse Ntsay à imprensa na terça-feira, à margem de um evento de entrega de fundos para apoiar pessoas afetadas pelos ciclones na região, de acordo com a comunicação social local.
"Vemos que o mundo está num momento difícil devido à situação entre a Rússia e a Ucrânia (...). Estamos a acompanhá-la de perto", afirmou o primeiro-ministro, acrescentando que a nação insular africana não condenará a "operação militar" lançada pela Rússia.
As observações de Ntsay sucedem aos apelos dos embaixadores da União Europeia e de vários dos seus Estados-membros, bem como dos Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Japão, Coreia e Noruega esta semana num comunicado conjunto para que as autoridades malgaxes condenem a invasão russa da Ucrânia.
Os parceiros internacionais signatários do apelo conjunto pediram o apoio de Madagáscar para um projeto de resolução em discussão na Assembleia Geral das Nações Unidas que denuncia a invasão russa e exige a retirada das tropas russas da Ucrânia, que deverá ser votada hoje.
Entretanto, o embaixador russo em Madagáscar encontrou-se com o ministro malgaxe dos Negócios Estrangeiros, Patrick Rajoelina, junto de quem defendeu a posição de Moscovo.
Até agora, muito poucos países do continente africano se pronunciaram publicamente sobre a invasão russa da Ucrânia.
Entre eles consta o Gana, cuja ministra dos Negócios Estrangeiros e da Integração Regional, Shirley Ayorkor Botchwey, denunciou a operação poucas horas depois do seu início, em 24 de fevereiro.
Da mesma forma, o ministro dos Negócios Estrangeiros nigeriano, Geoffrey Onyeama, expressou o reconhecimento da soberania de Kiev ao seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, numa chamada telefónica no passado sábado.
Na última segunda-feira, os Camarões exortaram "as partes a cessar as hostilidades e a iniciarem conversações para alcançarem uma solução acordada" - sem tomar partido - enquanto o Maláui exortou no domingo a Rússia "a retirar as suas forças da Ucrânia e a criar uma plataforma para uma solução negociada" para o conflito.
O Governo sul-africano - que tem relações estreitas com Moscovo no seio do BRICS, o bloco de potências emergentes constituído pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - também instou a Rússia, no dia da invasão, a "retirar imediatamente as suas forças da Ucrânia".
Além disso, o Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa apelou na sexta-feira à "mediação" para parar a guerra.
A nível regional, a União Africana (UA) apelou a um cessar-fogo "imediato" e ao "respeito pelo (...) direito internacional, integridade territorial e soberania nacional da Ucrânia", enquanto a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) exortou a Rússia e a Ucrânia a "pararem os combates" e a "usarem o diálogo para resolver as respetivas diferenças".
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e mais de 660 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.