A Guerra Mundo

Bienal de Veneza recusa presença de entidades ligadas ao regime russo

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A Bienal de Veneza anunciou hoje que não aceitará a presença, nos seus eventos, de instituições ou personalidades ligadas ao regime russo, mas abrirá portas aos que "defendem a liberdade de expressão" contra a "inaceitável" invasão da Ucrânia.

Num comunicado publicado na sua página oficial, a organização da Bienal de Veneza, prestes a inaugurar a 59.ª Exposição Internacional de Arte, a 23 de abril, adianta que está a "colaborar em todos os sentidos com a Participação Nacional da Ucrânia".

Os responsáveis pelo certame internacional dedicado à arte contemporânea indicam que estão a "incentivar a presença do artista [Pavlo Makov] e da sua equipa com seu trabalho, em cuja realização está fortemente empenhado, apesar da trágica situação na Ucrânia".

Há uma semana, o artista e os curadores do Pavilhão da Ucrânia - Maria Lanko, Lizavetta German e Boris Filonenko - revelaram que a equipa estava dispersa por vários pontos do país e no estrangeiro, mas terão conseguido fazer sair a obra "Fountain of Exhaustion" (1966), segundo a publicação internacional The Art Newspaper.

Na segunda-feira, por seu turno, os artistas e curadores do Pavilhão da Federação Russa decidiram renunciar às suas funções no projeto, cancelando a participação na exposição que constitui uma das mais importantes montras mundiais da arte contemporânea.

No comunicado de hoje, a Bienal de Veneza avisa que irá recusar, enquanto esta situação persistir, "qualquer forma de colaboração com aqueles que implementaram ou apoiaram um ato de agressão de gravidade sem precedentes, e, portanto, não aceitará a presença em seus eventos de delegações oficiais, instituições e personalidades em qualquer capacidade ligada ao governo russo".

Desta forma, "também pretende expressar o seu total apoio a todo o povo ucraniano e aos seus artistas, juntamente com a firme condenação da inaceitável agressão militar levada a cabo pela Rússia".

A Bienal "também está próxima de todos aqueles na Rússia que se opõem corajosamente à guerra, entre eles, artistas e autores de todas as disciplinas, muitos dos quais foram convidados da Bienal no passado", recorda, acrescentando que "não fechará a porta àqueles que defendem a liberdade de expressão e se manifestam contra a ignóbil e inaceitável decisão de atacar um Estado soberano e a sua população indefesa".

"Para quem se opõe ao atual regime russo, sempre haverá lugar nas exposições da Bienal, da arte à arquitetura, e nos seus festivais, do cinema à dança, da música ao teatro", sustenta, no comunicado.

Aponta ainda que a organização acompanha "com apreensão o desenrolar da guerra na Ucrânia, na esperança de que a diplomacia internacional encontre rapidamente uma solução compartilhada, que ponha fim à dor e sofrimento de todo um povo, e restaure a plena liberdade de ação e movimento ao mundo da cultura".

No início de fevereiro, Roberto Cicutto, presidente do evento, tinha anunciado que participariam nesta edição 80 representações nacionais, com as estreias dos Camarões, Nepal, Oman, Uganda e, pela primeira vez, o Cazaquistão, o Quirguistão e o Uzbequistão terão pavilhões independentes.

A 59.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza - onde Portugal estará representado com o projeto "Vampires in Space", de Pedro Neves Marques - decorre entre 23 de abril e 27 de novembro, com uma pré-abertura a 20, 21 e 22 de abril.

A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e mais de 660 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.

O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.