África do Sul exorta ao diálogo e defende reforma de organismos da ONU
África do Sul, aliado da Rússia no bloco BRICS, exortou hoje ao diálogo para resolver o conflito na Ucrânia e insistiu que os organismos da ONU devem reformar-se para serem eficazes nas negociações, livres do "legado" da Guerra Fria.
"A África do Sul continua profundamente preocupada com a escalada do conflito na Ucrânia. Congratulamo-nos com o início das conversações entre a Ucrânia e a Rússia. Esperamos que estas discussões conduzam a uma solução diplomática que conduza a uma solução política sustentável", afirmou o Governo sul-africano, numa declaração emitida pelo Ministério das Relações e Cooperação Internacional.
O bloco BRICS inclui a África do Sul, o Brasil, Rússia, a Índia e a China.
O Governo de Cyril Ramaphosa, que tem laços estreitos com Moscovo, tal como o Congresso Nacional Africano (ANC), no poder, salientou que qualquer conflito armado implica sofrimento "desnecessário" e lamentou que este esteja a ter lugar enquanto o mundo ainda está a lutar para sair da pandemia de covid-19.
Por esta razão, Pretória recordou que a Carta das Nações Unidas obriga todos os seus membros a resolverem as suas disputas pacificamente e reiterou o seu compromisso de que os seus organismos sejam um fórum eficaz para o diálogo.
"A ONU está agora no seu 76.º ano de existência e os acontecimentos das últimas duas semanas recordaram-nos, mais uma vez, da necessidade urgente de reforma, especialmente do Conselho de Segurança", argumenta-se na declaração.
"Precisamos de um Conselho livre do legado da Guerra Fria para ser verdadeiramente o espaço onde a comunidade de nações se reúne para resolver conflitos e construir um mundo mais justo e pacífico", acrescentou.
A África do Sul observou também que os gabinetes de mediação do secretário-geral da ONU podem contribuir positivamente para as negociações e manifestou o seu apoio a quaisquer outras iniciativas regionais, tais como os Acordos de Minsk, para pôr fim à guerra.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já mataram mais de 350 civis, incluindo crianças, segundo Kiev. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e mais de 660 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a "operação militar especial" na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.