Casamento tremido
Sou simpatizante do CDS, com residência na Madeira, sem atividade política, mas que gosta de acompanhar o que se passa na governação da Madeira. E não estou a gostar do que vejo.
Uma coligação, tal como um casamento, pressupõe um acordo entre duas partes que deve ser cumprido, sob pena de divórcio. Ora, não é isso o que está a acontecer nesta aliança PSD-CDS que eu próprio saudei.
Num primeiro momento, passou-se para a opinião pública a ideia que a ampliação da orgânica do Governo e o aumento de cargos de nomeação política derivavam da coligação e da necessidade de satisfazer os apetites das girls e boys do CDS. O que se vê é que em muitas empresas públicas até se aumentou o número de administradores, mas não entrou ninguém do CDS. E a ideia, passada pelo próprio PSD ficou. Só que, bem vistas as coisas, o que aconteceu: o CDS ficou com 2 Secretarias regionais, porventura as mais difíceis e com os casos mais bicudos que não interessavam aos governantes do PSD, como os transportes terrestres e a aquicultura e pouco mais. Na Economia, o Dr. Rui Barreto, teve que levar com a brigada do reumático laranja e é abafado pelos fundos comunitários da responsabilidade de outra Secretaria. Na Secretaria do Mar que levou meses a ser instalada, o Dr. Teófilo Cunho teve que levar com dois Diretores Regionais do PSD e está manietado, pelo que se lê e ouve. Assim não. Valha-nos o Presidente da Assembleia Legislativa que tem desempenhado exemplarmente o cargo e que honra o partido.
Apesar desta subjugação do CDS, apagando-se perante o eleitorado, esquecendo os seus interesses, e de ter contribuído, decisivamente, para as vitórias da coligação nas autárquicas, com a conquista da Câmara do Funchal, e nas legislativas, ganhando em 10 dos 11 concelhos, o PSD continua a menorizar o CDS.
Pergunto: nas autárquicas de 2017, sem o CDS, o PSD teve melhores resultados? Nas eleições para a Assembleia da República, em 2019, o PSD teve mais votos do que agora? Claro que não, e é por isso que não se percebe este ziguezague dos social-democratas em relação ao seu parceiro de coligação.
Até há uns ressabiados de uns políticos laranja “semiaposentados” que põem em causa uma coligação pré-eleitoral para o próximo ano, esquecendo que se não fora o CDS, o seu partido estava na oposição, caso o CDS tivesse optado por uma coligação com o PS e o JPP, como desejava e patrocinava António Costa. E ainda, vêm insinuar uma possível aliança com os radicais do Chega para chantagear o seu parceiro de coligação. Haja decência!
Está na altura do CDS, exigir uma definição ao PSD: ou quer continuar o casamento ou quer um divórcio antecipado. Os Congressos servem para isso.
António Carvalho