Análise

Questões de sobrevivência

Há um PSD que quer o regresso ao partido único de poder, dono e senhor de toda a administração pública

A pouco mais de um ano das eleições para a Assembleia Legislativa da Madeira, temos já os principais partidos na linha de partida. Falta apenas o CDS relegitimar a liderança bicéfala de José Manuel Rodrigues e Rui Barreto em congresso e assinar o acordo com o parceiro PSD para avançar coligado para as urnas, solucionando a sua própria sobrevivência política por mais uns tempos. Isto se até lá não for incomodado pela Justiça. O que é pouco provável, uma vez que o organismo encarregue de elaborar o relatório de auditoria sobre os alegados ilícitos criminais em torno do dinheiro depositado em contas bancárias de dirigentes centristas pelo principal financiador do Chega, em 2019, não tem recursos financeiros, está sem dinheiro para o fazer. Ironia do destino.

Na frente interna tudo sob controlo. A ordem que saiu do recente congresso do PSD-M é para não hostilizar o parceiro, mesmo que muitos social-democratas o desejem profundamente. Há um PSD que quer o regresso ao partido único de poder, dono e senhor de toda a administração pública, de todos os lugares de nomeação e de chefia. Mas isso não vai acontecer e, para segurar esse poder, Albuquerque está disposto a “federar a direita” regional, alargando o arco da governação ao Chega e à Iniciativa Liberal, se for necessário, com todos os perigos que um desses partidos representa para a própria democracia. Factual: a direita tem mais espaço de manobra do que a esquerda. Mas vai ter de inaugurar uma nova mensagem. É que a comunicação política não pode ter como eixo de acção apenas e só os gritos contra o governo da República.

Já o PS conta apenas consigo próprio para chegar ao poder, por razões evidentes: a CDU tem tendência a desaparecer do mapa parlamentar e o Bloco de Esquerda não deve a este regressar. A posição assumida por ambos na guerra da Ucrânia – que fatalmente será mais longa do que se previa – ditou-lhes um futuro pouco auspicioso. Estão do lado errado da História e isto já não vai lá apenas com a luta dos trabalhadores e com as acções de protesto contra o capitalismo cada vez menos participadas. Sérgio Gonçalves, se quiser vencer ou chegar lá perto, vai ter de colocar já a máquina a trabalhar e, mais importante, ter mão num partido dado à destruição autofágica. Os avisos públicos de determinadas facções provam-no. Tem de exercer o poder, organizar, clarificar, criar uma estrutura de combate, com quadros reconhecidos pela sociedade civil, lançando ideias mobilizadoras e realizáveis. O PS não pode ficar preso aos egos deste ou daquele militante nem a estratégias que somaram derrotas sobre derrotas. Tem de apontar a mira e determinar o caminho. Sérgio Gonçalves tem muito pouco tempo para sobressair, pelo que, se não estabelecer ‘linhas vermelhas’ a nível interno, não vai conseguir chegar a bom porto.

2. O efeito devastador da guerra na Ucrânia vai ter um custo enorme nas nossas vidas e no nosso quotidiano. Ainda não há uma corrida declarada aos bens essenciais, mas muitas famílias começam a precaver-se e a armazenar alimentos com longo prazo de validade. O conflito desencadeado pela Rússia imperial, que nos enche de vergonha e piedade pelo massacre que não poupa crianças nem idosos, vai provocar mais pobreza entre nós, mais pobreza no Mundo. Estamos todos metidos nesta terrível guerra até ao pescoço. E o mais dramático é que nós, os que propalamos os valores da democracia e da liberdade, não conseguimos apear um ditador sedento de expansão. Depois de três anos dramáticos de pandemia, estamos novamente na frente de batalha. Vai ser necessário um grande esforço e muitos apoios complementares para evitarmos a catástrofe social e económica.