Violência à noite
Estes últimos dias voltámos a assistir a um filme já muitas vezes visto e repetido. Primeiro na Madeira e depois no continente, mais precisamente em Lisboa. Duas cenas de pancadaria, ambas à porta de estabelecimentos noturnos. No caso do Funchal o ataque resultou de forma gratuita perpetrado por um grupo da claque do Vitória de Guimarães. Os jagunços do costume, segundo as informações recolhidas, já vinham a causar desacatos desde a zona velha e continuaram nas imediações do casino, embora tenha sido à entrada das Vespas que enfrentaram resistência, o que redundou nas tristes imagens que circularam pelas redes sociais. Em Lisboa esta semana passou-se exatamente o mesmo. Desta vez por um grupo que no momento em que escrevo ainda continua por identificar, mas tendo deixado em estado crítico um dos quatro polícias que tentaram (mesmo fora de serviço) acalmar dois grupos que se envolveram numa bizarra troca de agressões.
É de facto de uma enorme tristeza e que me choca particularmente porque trabalhei vários anos em espaços noturnos e nunca precisei de andar “ao soco” para resolver o que quer que fosse. É até estranho que em pleno século XXI as pessoas continuem a usar a luta física para resolver diferendos ou para vincar pontos de vista. Hoje em dia, pelos contactos que fiz e as amizades que deixei desses tempos, ainda sou solicitado muitas vezes para dar conselhos a amigos com filhos já em idade das primeiras saídas ou para lhes facultar algumas indicações para que possam reagir de forma mais prática e calma a algumas situações de maior nervosismo. Oiço na voz deles as preocupações inerentes e percebo o constante sobressalto de um pai que vê uma filha de 18 ou 19 anos sair com outros amigos à noite, o que infelizmente para todos nós continua a ser considerada uma atividade pouco segura e que esconde inúmeros perigos e situações que se podem tornar muito desagradáveis depois de um ou dois copos de álcool.
Esse é aliás o tema. Hoje em dia as pessoas que andam à pancada dentro ou nas imediações de espaços noturnos são facilmente identificadas, ou pelas câmaras que já existem na maioria ou porque alguém viu e teve a coragem de contar. Esse tipo de gente que gosta de armar confusão, raramente o faz só uma vez, é repetente e usa aliás tais “recursos” para se armar dentro do deu grupo ou para ser engraçado. Esta gentalha que não tem outro nome, podia e devia ser severamente punida, precisamente onde lhes doí mais. Proibição de entrar em espetáculos culturais, desportivos ou de entretenimento e à reincidência bater com os costados na cela também não lhes faria mal algum. Temos que começar a fazer valer as consequências para os atos que são cometidos, seja na noite, nos estádios de futebol, ou em qualquer outra situação. Habitualmente os que armam desacatos num sítio armam igual no outro. O futebol é um exemplo bem fácil de dar. Na Fórmula 1 vai-se arranjando formatos que tornem a competição mais competitiva e os lugares do público mais confortáveis e com melhor visibilidade, na NBA todos os anos se transformam as experiências do público para o tornar mais dinâmico e envolvente, no desporto rei vai-se alimentando a possibilidade de capangas armarem desacatos no meio de claques sinistras, sem lei nem roque e com isso afastarem os ordeiros e as famílias do jogo.
A noite tem a dificuldade acrescida de ser raro o espaço que vende copos de leite. Normalmente é o álcool que faz a festa e em certos casos quanto mais melhor. Eu convivo bem com isso, a maioria das pessoas que conheço até ficam mais alegres com um copo ou dois, dizem as verdades muitas vezes escondidas e também é benéfico para a saúde mental e para esquecermos um pouco os problemas do dia a dia. Agora há que encontrar formas de o tornar mais seguro para todos, para que não seja um drama e uma atividade altamente perigosa. É natural que se cometam alguns excessos, algumas loucuras sobretudo entre os mais novos, é próprio da idade. Arranjarem forma de se afirmar através do murro e do pontapé é que já ultrapassa todos os limites. Esta estratégia de combate à violência tem que envolver os políticos, a policia e os próprios espaços. Responsabilizar quem tem de ser responsabilizado e punir de forma exemplar para que quem não se sabe comportar fique de castigo.
Já bem basta para os pais saberem que a noite e o álcool proporcionam uns beijinhos ou uns amassos e o quanto lhes faz confusão imaginar nas suas cabeças as “santas” das filhinhas passarem por isso. Quanto a essa parte, para que saibam, pouco ou nada há a fazer sem ser educar da melhor forma possível e aceitar que também já tiveram aquela idade e já passaram pelo mesmo. Não é a proibir que vão lá e nem é só na noite que as coisas se passam. Muitas vezes é durante o dia.
Se queremos que continue a existir diversão e que esta possa ser salutar temos todos que fazer por isso. Sou contra a proibição do álcool e atitudes proibitivas desse género, até porque a violência também pode aparecer sem ele. Mas que há que tomar medidas disso não parece existir duvida alguma. A diversão noturna ao contrário do que possa por vezes parecer quando vemos destas imagens, faz bem a muita gente, é positiva, dá empregos, faz a economia circular, ajuda o turismo e cria momentos únicos, onde pessoas se reencontram, se conhecem ou se apaixonam, mas a segurança é dos bens mais valiosos que podemos ter. Se este tipo de cenas se for repetindo cada vez com maior cadência corremos o risco de transformar uma simples saída numa atividade marginal, onde só tipos violentos e gente sem princípios se digladiam para ver quem tem a dita maior. Isto também se pode e deve ensinar na escola.