Escórcio foi ao Porto apresentar livro e defender sistema educativo próprio para a Madeira
“A Constituição da República deveria possibilitar a existência de um país com três sistemas educativos: Continental, Madeira e Açores, no pleno respeito pelas Regiões Autónomas”. A ideia foi defendida pelo professor madeirense André Escórcio, que apresentou hoje o livro ‘A escola é uma seca’ no Fórum Fnac do Mar Shopping, no Porto (Matosinhos).
No entender do docente aposentado, “as regiões só deveriam ter como limite a acessibilidade ao nível superior, enquanto permanecer o actual quadro de exames no 12º ano”. “Se todo o sistema for debatido, parece-me óbvio que surgirá outro formato onde o exame deixará de ser prevalente para a entrada no superior”, acrescentou.
Reforçando as ideias que avançou aquando da apresentação do seu livro na Madeira, nesta sessão no norte do país voltou a defender que “o sistema educativo está calmamente sentado e muito próximo do olho do furacão”, deixando o alerta de que “os sinais do furacão são bem sensíveis por alunos, pais, professores e pelo sistema empresarial”. “Em síntese, a Escola está desfasada do tempo que estamos a viver. Quando, por um lado, os alunos dizem que ‘ali não se pensa, ali decora-se’, porque ‘a escola está desenhada em torno da matéria’ e que ‘não existe um propósito’, por outro, 84% dos professores desejam reformar-se antecipadamente. Significa isto que para os dois principais actores esta escola está conceptualmente desacreditada. Porque nos esquecemos que o papel da Educação é transformar”, afirmou André Escórcio, citando numa nota da Fnac.
O professor e autor do livro entende que “o enciclopedismo que os currículos e os programas transportam, o ensino estático e segmentado por disciplinas, desfasados da vida real, não conduzem a resultados proporcionais ao investimento na Educação”. A este respeito, citou a docente universitária e investigadora Ilídia Cabral, que assumiu “que as escolas têm de aprender a ensinar no séc. XXI, sob pena de se tornarem dispensáveis”. “Estamos preocupados com conteúdos programáticos, quando existe uma grande diferença entre conteúdos e conhecimento. Nesta escola, o conteúdo está mais próximo da quantidade; o conhecimento constitui uma aposta na complexidade. Em síntese, confrontamo-nos com uma escola igual para todos, quando todos somos diferentes na origem e nos sonhos”, adiantou na sessão realizada em Matosinhos.
A terminar, observou que continuamos “a ter de um lado a Escola e do outro a Vida”. “Uma Escola acantonada dentro dos seus muros, incapaz de os trepar e olhar para o que se está a passar em todos os outros sistemas. Se a escola fizesse esse esforço de espreitar o mundo, mesmo por uma fresta, perceberia o crescente desencanto daqueles que diz querer formar. Perceberia as fragilidades e as causas do abandono e do insucesso. Perceberia, certamente, que pouco vale a imensa tralha de pseudo-conhecimento desarticulado que transmite. Aliás, o sistema continua a preparar para empregos que não vão existir. Porque estamos agarrados, de forma inflexível, aos currículos, aos extensos programas e aos formatos pedagógicos que matam a curiosidade e o sonho”, concluiu.