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Governo da Venezuela devolve aos proprietários centro comercial expropriado há 13 anos

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O Governo venezuelano devolveu sexta-feira o centro Comercial Sambil de La Candelária (centro de Caracas) aos seus proprietários, mais de 13 anos depois de expropriado pelo falecido presidente Hugo Chávez.

A devolução foi confirmada aos jornalistas pela diretora da Câmara Venezuela de Centros Comerciais, Cláudia Itriago, e pelo representante da Construtora Sambil, Alfredo Cohén.

"Recebemos oficialmente as instalações do Sambil em La Candelária (...) desde já estamos avaliando e começando a preparar-nos para fazer as adequações e abrir o mais pronto possível", disse Alfredo Cohén, precisando que gerará 3.500 postos de trabalho.

A devolução provocou distintas reações, entre elas a de Luís Vicente León, diretor da empresa de sondagens Datanálisis, para quem foi uma boa notícia.

"São evidentes as mudanças na Venezuela. Não se trata apenas de esta boa notícia, mas de um conjunto de ações --liberalização cambial e de preços, não hostilização da relação com o setor privado e discussão petrolífera. Não houve uma mudança de Governo, mas sim dentro do Governo", escreveu na sua conta do Twitter.

Em dezembro de 2008, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez (presidiu o país entre 1999 e 2013) ordenou, durante o espaço radiofónico e televisivo "Aló Presidente", que fosse expropriado o Centro Comercial Sambil de La Candelária, no centro de Caracas, argumentando que provocaria congestionamento de tráfego.

"Como é possível que em plena Candelária estivessem a fazer um bicho desses, um Sambil? Não, não e não! Quem aguentará o tráfego na Avenida Urdaneta (uma das principais da zona)?" perguntou o líder socialista.

Hugo Chávez instruiu o presidente da Câmara Municipal de Libertador, Jorge Rodríguez - simpatizante do seu governo - a "expropriar isso e converter numa clínica, escola ou universidade" e queixou-se dos altos preços dos terrenos na capital e do uso de espaços para beneficiar o capitalismo.

"Terão que tirar-me de Miraflores (palácio presidencial) para que haja um Sambil em La Candelária", sentenciou.

O anúncio de expropriação do centro comercial no centro de Caracas, em fase final de construção e a poucos dias da inauguração, reativou a polémica sobre a alegada existência de "uma linha política governamental" contrária à propriedade privada.

A Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Caracas (CCISC) reagiu ao anúncio denunciando que demonstrava o perigo em que se encontravam os direitos e garantias dos venezuelanos, entre eles o direito constitucional à propriedade privada.

"A possibilidade de um governante ter tanto poder como para decidir num dia qualquer sobre um investimento de três anos e de tanta envergadura, implica a arbitrariedade e o desequilíbrio de poder, que é o que gera não negociar", disse Víctor Maldonado, então presidente da CCISC.

O Centro Comercial Sambil de La Candelária ocupa mais de 21.000 metros quadrados. Disporia de 273 lojas comerciais, 4.300 metros quadrados para escritórios, um centro de convenções para 2.000 pessoas, 10 salas de cinema e um centro gastronómico, e geraria emprego para pelo menos 2.500 pessoas.

Segundo a imprensa venezuelana, apesar de terem sido apresentados vários projetos para o centro comercial, durante o período em que esteve expropriado funcionou apenas como refúgio para "famílias sem teto", depósito de bens de governos afetos ao chavismo e como sede de vários grupos afetos à revolução bolivariana.

Várias instituições venezuelanas teriam manifestado que a infraestrutura não era adequada para um grande hospital público nem para uma universidade pública.