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Brasil realiza operação contra grupo que alugava terras indígenas na Amazónia

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foto Pavel Martiarena / AFP

Autoridades brasileiras desmantelaram ontem uma organização criminosa acusada de alugar ilegalmente terras a fazendeiros dentro de uma reserva indígena na Amazónia, com a cumplicidade de um cacique da etnia afetada e funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai).

O grupo investigado envolve proprietários de terras, uma liderança indígena e funcionários da Funai acusados de promover arrendamentos ilegais na Terra Indígena Xavante Marãiwatsédé, uma reserva no estado amazónico de Mato Grosso, para o desenvolvimento de atividades pecuárias.

"Durante a investigação foi constatado que funcionários da Funai em Ribeirão Cascalheira estavam cobrando valores de grandes proprietários de terras da região para intermediar arrendamentos dentro da reserva", assegurou a Polícia Federal.

A operação permitiu a prisão do coordenador da Funai na cidade de Ribeirão Cascalheira, o soldado da reserva Jussielson Gonçalves Silva, do sargento da Polícia Militar Gerrard Maxmiliano Rodrigues de Souza e do ex-policial Enoque Bento de Souza, também funcionários da Funai e acusados de liderar a organização criminosa, segundo a Polícia Federal.

Um dos chefes da etnia Xavante, que não foi identificado pela polícia, é acusado de receber 900 mil reais (160,5 mil euros) por mês por sua cumplicidade na irregularidade.

O juiz responsável pela investigação e que emitiu os três mandados de prisão realizados hoje pela polícia também ordenou a retirada em 45 dias de cerca de 70 mil bois criadas em 15 áreas alugadas ilegalmente pelos fazendeiros.

Este rebanho tem um custo estimado de 210 milhões de reais (37,4 milhões de euros).

De acordo com a ordem judicial, os fazendeiros que não retirarem os animais da reserva poderão ser presos e seu gado apreendido.

A Polícia Federal disse ainda que durante a investigação identificou "grandes danos ambientais" dentro da reserva causados pelos incêndios que foram promovidos para preparar a terra para o cultivo de pasto para o gado, pela desflorestação e pela instalação de estruturas destinadas à agricultura.

"Somente em quatro das 15 áreas arrendadas ilicitamente, os especialistas calcularam o valor necessário para reparar os danos ambientais em mais de 58 milhões de reais [10,3 milhões de euros]", segundo o comunicado.

A Terra Indígena Marãiwatsédé abrange cerca de 165 mil hectares entre os municípios de Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia, e é considerada a quarta reserva indígena mais destruída da Amazónia brasileira.

A Funai informou em nota que o aluguer de terras em reservas indígenas é proibido, mesmo para os próprios chefes das etnias, e que afastou funcionários envolvidos de seus cargos.