O regresso da inflação-2

Capítulo 2 da transcrição da “lição” do ilustre economista e professor Daniel Bessa publicada no Expresso que pela sua clareza, importância e atualidade, merece ser lida, divulgada e ponderada.

“… Devemos a um deles, Milton Friedman, uma conclusão até ver definitiva — tão definitiva, de tão sólida, que é uma das razões que lhe valeu o Prémio Nobel da Economia, em 1976”.

Os fatores que podem provocar um aumento de preços são tendencialmente em número infinito. “Se qualquer destes fatores for acompanhado de um aumento da massa monetária, haverá inflação; se tal não acontecer, não poderemos imputar-lhe essa responsabilidade.”

O aumento da massa monetária, ou da moeda em circulação, é o combustível sem o qual o aumento dos preços não poderá ganhar sustentação, acabando por retroceder (com custos, evidentemente, em que não é possível descartar a desaceleração temporária do crescimento económico, no limite, a retração temporária do PIB e do próprio emprego). Ora, como todos sabemos, moeda em circulação é o que o Mundo tem mais, hoje em dia, num processo iniciado há vários anos e intensificado, em larga escala, com o surgimento da pandemia e o aumento das dívidas públicas, financiadas pelos bancos centrais.

A pandemia foi “a cereja em cima do bolo”. Ao mesmo tempo que contraiu a produção e a oferta de bens e serviços, fez aumentar a massa monetária. Durante algum tempo, os detentores desta massa monetária dispuseram-se a pagar (taxas de juro negativas) para continuarem a detê-la, não a gastando. Entenderam ter chegado o momento de começarem a gastá-la. Temos inflação. Encontramo-nos num momento de grandes decisões. Dando curso à tendência habitual para nos sossegarem, e nos diminuírem, infantilizando-nos, a generalidade dos políticos, alguns governadores de bancos centrais incluídos, dizem-nos que o fenómeno é passageiro, não havendo razões para alarme. Não é verdade. ...” (Continua).

Leitor identificado