França denuncia "graves violações da liberdade de imprensa" no Mali
A França denunciou hoje "graves violações da liberdade de imprensa" no Mali, onde a junta no poder ordenou a suspensão das emissões da RFI (Rádio France Internacional) e da France 24, meios de comunicação social franceses.
Além disso, Paris disse existirem também "graves alegações de abusos" no centro do país.
A França "manifesta a sua preocupação com as graves alegações de abusos no centro do país, que foram documentadas de forma independente e não podem ser ignoradas", afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, referindo-se a um relatório da Human Rights Watch (HRW).
A junta militar no poder no Mali ordenou a suspensão da emissão da RFI (Radio France Internationale) e da France 24 no Mali, acusando as emissoras francesas de "falsas acusações" de ações cometidas pelo exército maliano, segundo um comunicado.
O Governo do Mali "rejeita categoricamente estas falsas acusações contra as valentes Fama [Forças Armadas do Mali] e "inicia um procedimento (...) para suspender a difusão da RFI (...) e da France 24 até nova ordem", refere-se numa declaração enviada à agência France-Presse, assinada pelo porta-voz do Governo maliano, coronel Abdoulaye Maiga.
Os dois meios de comunicação social continuavam, porém, a transmitir hoje de manhã, observou a agência de notícias francesa.
A suspensão de dois grandes meios de comunicação social estrangeiros não tem precedentes recentes no Mali. A RFI e a France 24, que cobrem as notícias africanas, têm fortes audiências no Mali.
O Governo militar do Mali sustenta que as "falsas alegações" foram relatadas numa reportagem emitida em 14 e 15 de março, na qual a RFI deu a palavra a alegadas vítimas de abusos, segundo estas, cometidos pelo exército do Mali e pelo grupo Wagner, empresa privada russa de mercenários a operar no Mali.
A junta, diz a declaração assinada por Maiga, proíbe todas as estações nacionais de rádio e de televisão, bem como os 'sites' de notícias e jornais malianos, de retransmitirem e/ou publicarem programas e artigos de imprensa da RFI e da France 24.
Abdoulaye Maiga compara, por outro lado, "as ações" da RFI e da France 24 às "práticas e ao papel infame da rádio 'Mille Collines' no passado recente", que encorajaram o genocídio no Ruanda em 1994.
A União Europeia (UE) já considerou hoje ser "inaceitável" a decisão da junta militar do Mali de suspender, com base em "acusações infundadas", as emissões dos media franceses RFI e France 24 no país.
"Vimos os anúncios feitos pelo Governo maliano da suspensão da RFI e da France 24", respondeu uma porta-voz da UE para os Negócios Estrangeiros a uma questão colocada na conferência de imprensa diária da Comissão Europeia.
"Consideramos que isto é inaceitável e deploramos esta decisão e as acusações infundadas", salientou Nabila Massrali.